Páginas

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Capítulo 2: Alados



            O sinal tocou e nós saímos da sala. Quando estávamos na porta, ouvi alguém me chamando.
            - Manuela!
            - O que houve? – Danilo se aproximou de mim. Eu já estava esperando que não fosse coisa boa.
            - Você deixou cair isso. – me entregou um papel dobrado em seis, piscou para mim com um sorriso torto e foi embora.
            Eu nunca tinha visto esse papelzinho antes, então o abri.

                        Me encontre hoje, depois do colégio, na praia. Quero conversar com você.
                                                                                                          D.

                O que ele queria comigo? Um calafrio percorreu todo o meu corpo. Amanda tentou arrancar o papel de minha mão, mas eu não conseguia descongelar meus dedos. Ela me olhou com cara feia, depois com preocupação.
            - O que está escrito aí? Ele não está te ameaçando não, está?
            - Não, mas está pedindo para que eu me encontre com ele hoje, depois do colégio.
            - Não brinca? Seu primeiro encontro! Que máximo!
            Se eu estivesse no lugar dela, óbvio que eu reagiria da mesma maneira, mas eu sabia o que Danilo fazia comigo. Ele me assustava, de um jeito bom, mas mesmo assim me assustava.
            - E então, você vai? – perguntou Amanda, quando eu não disse nada.
            - Eu… eu não sei.
            - Claro que ela vai… não é? – dessa vez era Clara.
            - Gente, vocês estão deixando ela nervosa. – Marina interveio a meu favor.
            - Tá bom, foi mal amiga.
            Bom, não havia mal nenhum em sair com ele… desde que eu não me apaixonasse.
            - Tudo bem. Eu vou.
            - Você vai?!
            - Claro. Se ele quer conversar, tudo bem.
            - Quem diria, Manuela saindo com o garoto que ela acabou de chamar de chato irritante.
            - Pois é. – chegamos ao pátio, por onde éramos obrigados a sair do colégio, pois, se não saíssemos, o pátio ia explodir de tanta gente.        
            - Hey! – Isabella disse – Como vão? Eu acabei de descobrir que estou na turma da Mariana, da Bia e da Carol. É muito legal ficar do lado delas. A gente passou a aula toda conversando – ela sorriu de modo travesso. – Mas então, deixa eu contar para vocês…

            Naquele dia, saímos do colégio pouco antes do horário normal – 12:00. Estava nervosa com o “encontro” na praia com Danilo. As aulas tinham sido normais. Nem Danilo nem mais ninguém falou sobre o bilhete, o que me deixava ainda mais nervosa.
            Fui andando até a praia sozinha. Não queria que nenhuma amiga minha desse uma de guarda-costas. Cheguei lá, a praia estava deserta. As ondas eram o único som que podia ouvir, o céu estava nublado, mas bonito.
 A alguns metros de distancia de mim, mais perto do mar, estava Danilo, sentado na areia e encarando o oceano. Ele parecia feliz e calmo, o que era muito estranho. Respirei fundo antes de andar até ele devagarzinho.           
Talvez o som de meus pés na areia tenha o alertado de minha presença, pois ele levantou a cabeça lentamente. Seus olhos demonstravam uma alegria em estar naquele lugar. Um meio sorriso me deu a certeza desse sentimento.
            - Você veio.
            - Por que não viria? – perguntei enquanto me sentava ao seu lado.
            - Porque tem medo de mim e porque tem que resolver um problema entre sua amiga e o Felipe.
            Meu corpo paralisou por alguns segundos antes que eu pudesse responder.
            - Como você sabe de tudo isso?
            - Tenho minhas fontes. – disse, voltando a olhar para o oceano.
            - Hmm.
            - Estranho.
            - O que é estranho?
            - O fato de você não ter brigado comigo por eu ter dito que você tem medo de mim.
            - Não sou tão infantil assim. O que você acha ou deixa de achar não me importa.
            - Muito madura. É nervosismo por minha causa?
            - Claro… que não. – ele riu debochadamente.
            Voltei a observar o oceano, sendo hipnotizada pelo movimento eterno das ondas e pela claridade da água. Quando dei por mim, já tinham-se passado quase dez minutos de silêncio absoluto.
            - Você gosta de estar aqui. – disse Danilo quando voltei a realidade.
            - Você também. – falei. Ele esboçou um sorriso em resposta.
            - Que tipo de pessoa não gostaria de praia?
            - Conheço algumas.
            - Cariocas?
            - Sim, mas sempre achei que essas pessoas tinham problema na cabeça, então… – dei de ombros. – Mas porque exatamente você me chamou aqui? Disse que tinha que conversar comigo…
            - Só queria ver se já tinha começado. – disse ele, como se estivesse respondendo a uma pergunta no estilo de “Qual o seu nome?” – Pelo visto, ainda não. – creio que a última parte não era para eu ter ouvido.
            O.K., agora eu estava confusa e assustada ao mesmo tempo. Do que ele estava falando? O que já tinha começado? Será que agora, além de irritante e misterioso ele era maluco? Ah, não. É demais!
            - Começado o que? – perguntei, revendo em minha mente se havia deixado alguma parte da conversa escapar.
            Nessa hora, ele me olhou como se tivesse acabado de perceber que tinha falado demais e mudou de assunto.
            - E aí, você mora aqui perto?
            - Não adianta mudar de assunto. Do que você estava falando?
            - De nada.
            - Está me deixando curiosa! – falei, dando um tapinha em seu braço.
            - Que pena. – respondeu ele, abrindo um sorriso de garoto malvado.
            Fechei a cara apesar de estar morrendo de vontade de sorrir de volta. “Bom,” pensei “se ele não vai me contar porque me chamou aqui, acho melhor acabarmos por enquanto e continuarmos depois”. A final de contas, eu já tinha passado do horário de estar em casa.
- Bem, eu acho que vou para casa… – disse, levantando-me.
            - Não vai. – pediu ele, segurando minha mão.
            - Mas a gente não tem mais nada para falar um para o outro.
            - Me conte sobre a sua vida.
            - É uma vida normal. – eu disse, voltando a me sentar.
            Os olhos de Danilo brilhavam muito, como se um universo de segredos estivesse escondido por detrás deles. O problema é que, ao mesmo tempo que revelavam a presença de algo de diferente, seus olhos eram impenetráveis, tornando impossível a revelação deles.
            - Nada que possa me contar? – perguntou ele, desconfiado.
            - Definitivamente, não. – saiu um pouco mais rude do que eu esperava, mas não pude fazer nada.
            - Não há nada sobre mim que você queira saber?
            - Não… por quê?
            - Pelo modo como me olhou, deduzi que quisesse saber alguma coisa em especial Ah, eu não tenho namorada. Pode ficar tranqüila.
            Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.
            - Primeiro: quem disse que quero saber alguma coisa de você? Segundo: não ligo se tem namorada ou não.
            - Posso falar uma coisa?
            - Não.
            - Você mente muito mal.
            - Não estou mentindo.
            - Vou fingir que acredito em você.
            - Não preciso que acredite em mim.
            Era impressionante como não podíamos ter uma conversa normal, sempre acabávamos agindo como crianças. Cruzei os braços em protesto e fuzilei o mar com os olhos. Por que ele sempre tinha que ter uma resposta pronta para tudo?
            Ele sorriu de modo divertido. Estava achando graça. Aah!
            - Você fica ainda mais linda quando está com raiva. – na mesma hora, meu rosto ferveu e eu não sabia o que dizer no inicio. Como ele fazia isso comigo?
            O sorriso aumentou.
            Olhei para o relógio e fingi um susto.
            - Caramba, olha a hora! Tenho que voltar para casa! – levantei-me correndo. Se visse aquele sorriso mais uma vez, ia ficar maluca!
            Porém, quando comecei a me afastar, ele chamou meu nome.
            - Te vejo amanhã? – surpreendentemente, ele estava sério.
            - Claro. – e então fui embora.                                                           
            Voltei para casa com uma boa sensação. Temia que estivesse sentindo algo a mais pelo menino chato e sedutor que havia conhecido há pouco tempo. Eu não sabia explicar, era como se ele tivesse o controle de todas as minhas reações, como se me conhecesse há anos. Bem, fosse o que fosse, não estava muito a fim de descobrir o que era.
            Quando cheguei, tranquei a porta e depois chequei se estava realmente fechada duas vezes. Não estava com fome, então tomei um banho e me preparei para a guerra que eu iria ter com Felipe Grigory – ele tinha o mesmo sobrenome que o meu só que o meu Grigori terminava com “i” e o dele, com “y” –. Peguei meu celular e liguei para ele – tinha conseguido o seu número depois da festa em que ele declarou seu amor por Marina – ele atendeu no segundo toque.
            - Alô.
            - Felipe Grigory, o que você pensa que está fazendo?!
            - Do que você está falando?
            - Do fato do senhor ter brigado com a Marina por ciúmes.
            - Quem disse que foi por ciúmes?
            - Eu sei. Ela me contou que desabafou com você e, em vez de ajudá-la, você soltou os cachorros para cima.
            - Por acaso ela te contou sobre o que ela quis desabafar comigo?
            - Ela foi perguntar a sua opinião sobre quem você acha que pode ser o menino fofo que ela detalhou.
            - Não me lembre do olhar dela ao detalhá-lo. Como você queria que eu reagisse? Sabe que eu gosto dela, não agüentei vê-la falando de mais um aproveitador…
            - Você não vai achar que ele é um aproveitador quando descobrir quem é.
            - Duvido.
            - Tá, a escolha é sua. Você.
            - O que?!
            - Exatamente, você é o príncipe encantado dela.
            - Sério? Eu, sou eu? Ela gosta de mim!
            - Foi o único jeito que eu achei para fazer o meu papel.
            - Valeu Manu. Obrigado mesmo, você é uma ótima amiga!
            - De nada, fofo. – rimos. Ele transbordava felicidade.
            - Vou falar com ela amanhã...
            - Não! Espera ela deduzir sozinha. O plano é esse: eu vou dando mais detalhes para ela sem dizer o nome. Você continua fazendo o que sempre faz e ela vai descobrir rapidinho.
            - Tudo bem. Obrigado, mais uma vez.
            - Nada. Beijos.
            - Beijos. – desligou.
            Pronto, trabalho feito. Podia passar a tarde toda numa boa, mas me senti mal. Minha coluna estava uma droga. Tomei um remédio e apaguei no sofá.
            A noite foi tranqüila, não sonhei com nada. Acordei às seis e sai para o colégio um pouco mais cedo do que o normal. A dor nas costas parecia ter aumentado, o que me preocupou.
            Quando cheguei, o pátio estava praticamente vazio, apenas com algumas pessoas do nono ano que chegaram mais cedo para sabe-se lá o que. Nenhuma amiga minha tinha chegado ainda, então eu me sentei no banco onde elas sempre ficam e peguei meu caderno de matemática, onde desenhei vários corações distraidamente. Ouvi um barulho perto de mim e levantei a cabeça.
            Danilo se apoiou na coluna que havia ao meu lado e deu um sorriso torto que fez com que o meu coração acelerasse.
            - Não sabia que era uma nerd. – provocou.
            - Não sou.
            - Então está fazendo o que? – perguntou, tentando ver o que eu havia desenhado. Fechei o caderno rapidamente.
            - Não é da sua conta… – ele sorriu e, com um reflexo rápido, arrancou o caderno de minha mão, folheando-o até achar a folha certa – Com licença!
            Estava desesperada. E se ele achasse que os corações eram para ele? Tentei pegar o livro de volta, mas Danilo não deixou. Me levantei e o cerquei para recuperar meu material, mas ele era mais rápido que eu. Depois de muito tempo, ele levantou-o sobre a cabeça.
            - Deve ser bastante importante para que eu não possa ver.
            - Me devolva isso!
            - Hei, não grite. Está cedo demais para isso. – disse, colocando o dedo indicador na frente da boca e pedindo silêncio.
            - Por favor? – implorei.
            - Hmm… deixe-me ver… não.
            - Por que faz isso comigo?
            - Porque é divertido.                                                                         
            - Poxa, eu não estou bem hoje. Minha coluna ta doendo muito. Por favor! – ele parou, seu rosto ficou preocupado.
            - Dores na coluna?
            - Não te interessa. Dá para me devolver? – estendi a mão, mas ele me ignorou.
            - Onde são as dores, especificamente? – abaixei a mão.
            - Não sei direito. Entre os rins e os ombros, talvez.
            Danilo colocou meu caderno sobre o banco e mudou sua posição para tensa.
            - Merda. – resmungou.
            - O que foi? É algo grave?
            - Não. – ele se aproximou e me fez sentar no banco. Sentou-se ao lado – É uma coisa rara que só acontece a cada mil anos.
            - É mesmo? E o que é? – ele olhou para os dois lados (como se fosse um grande segredo) antes de responder.
            - Carregar peso demais na mochila. – disse ele, caindo na gargalhada.
            Encarei-o por um momento, sentindo-me uma idiota. É claro que ele ia querer me sacanear. Claro!        
            - Tem que ver a sua cara! – disse, ainda rindo.
            - Não, obrigada – Levantei-me do banco, irritada. Não podia acreditar no quanto eu tinha sido burra. Aah!
            - Ah, qual é? Não vai ficar chateada, né? – disse ele, se aproximando de mim mais do que o que eu consideraria confortável e me abraçando.
            - Sai… – infelizmente, não saiu nem um pouco convincente.
            - Me desculpa? – perguntou, me olhando nos olhos e fazendo com que eu me desmanchasse.
            - Danilo… – ele tombou a cabeça um pouco para o lado. Parecia um cachorrinho pidão. Eu estava quase me rendendo a ele quando ouvi uma voz conhecida.
            - Bom dia, galera! – Mariana se materializou na nossa frente.
            - B- bom dia. – gaguejei enquanto me livrava dos braços de Danilo. Este acenou com a cabeça para cumprimentá-la.
            - Do que vocês estão falando? – perguntou Mariana alegremente.
            - Nada de importante.
            - Estava me perguntando para quem seriam os coraçõezinhos que Manuela desenha no caderno. – disse Danilo. Cotovelei-o com o meu braço esquerdo com força, mas ele não reagiu.
            - Coraçõezinhos? Do que eu não estou sabendo heim Manu?
            - Oh! Você não sabia disso? – Danilo fingiu uma inocência tão ridícula que eu fuzilei-o com os olhos.
            - Bom, – comecei, virando-me para Mariana – na verdade… – tentei me salvar.
            - Não acredito que você está apaixonada e não me contou! Quem é? É novo? Porque você não estava apaixonada desde o final das ferias… – Danilo sorriu para mim como se estivesse dizendo: Essa paixão tem alguma coisa haver comigo? Cerrei os olhos. Mariana continuou tagarelando enquanto nós estávamos numa guerra silenciosa. – Espera, você é novo, não?
            - Sou sim, por quê? – ele virou-se para ela como se estivesse prestando atenção o tempo todo no que esta dizia.
            - Nunca te vi antes.
            De repente um bolo de alunos apareceu no meio do pátio. Algumas pessoas gritavam “briga, briga” e outras apenas olhavam horrorizadas. Senti uma coisa estranha, me levantei e fui ver o que estava acontecendo. Pude sentir Danilo me seguindo, estava tão perto que me incomodava.
            Consegui chegar ao meio da confusão e vi Tom praticamente se jogando em cima de Fernando, ex-namorado de Marina. Sofia estava no meio deles pedindo para pararem, ela ia acabar se machucando. Uma hora ou outra eles iam acabar acertando-a.
            - Danilo, me ajuda! – peguei sua mão e o arrastei para a briga. – Sofia, vamos sair daqui! – gritei acima do barulho.
            - O Tom pode se machucar!
            - Se nós não sairmos daqui, quem vai se machucar vai ser você.
            - Não quero saber!
            - Danilo vai ajudar a apartar a briga! Vamos! – saí com ela de lá. Depois de um tempo, a briga já tinha acabado e Fernando praticamente correu para fugir de Tom. Sofia correu até os garotos e eu a segui.
            - Vocês estão bem? – perguntou Sofia.
            - Aquele merda nunca mais vai aparecer na minha frente.
            - Calma, amor! Você se machucou? – ela começou a examiná-lo meticulosamente para ver se havia machucados.
            - Não. Vamos sair daqui. – disse Tom, ainda irritado, envolvendo seu ombro com o braço.
            Então eles foram embora. Quando estavam subindo as escadas, Sofia se virou e disse, usando a linguagem labial: “Te conto o que aconteceu depois”. Virei-me para Danilo.
            - Obrigada por apartar a briga. Mesmo.  
            - O “prazer” foi todo meu. – o sinal tocou.
            - Temos que subir.
            - Vamos – ele ofereceu a mão para mim e, sem pensar, segurei-a. Eu ia me arrepender desse simples ato, mais um motivo para ele implicar comigo.
            Quando chegamos à sala, me toquei que ainda segurava a mão de Danilo e rapidamente a soltei. Ele riu suavemente.
            Foi tudo muito rápido, Marina entrou na sala andando rapidamente e foi até Fernando.
            - Tenho que te dar uma coisa.
            - O que, um beijo? Quer voltar? Estou bem aqui… – ela deu um tapa em seu rosto, tão forte que ele cambaleou – Ai!
            - Quem você acha que é para dar em cima da minha melhor amiga na frente de todo mundo?! Seu egoísta, safado, idiota!
            - Calma, calma. – ela o ignorou.
            - Olha aqui, se você se meter com qualquer uma de minhas amigas de novo eu te mato! Está ouvindo?! Te mato!
            Ela deu as costas para ele e foi se sentar na carteira mais distante possível. Fui atrás dela.
            - Aonde você vai? – perguntou Danilo.
            - Vou falar com a minha amiga.
            - Briga de marido e mulher não se mete a colher.
            - Primeiro, eles não são casados. Segundo, eu vou ajudar a minha amiga. Eu conheço ela e ela está precisando. – ele deu um meio sorriso.
            - Tudo bem – me virei para ir falar com Marina – Hei – me virei de novo – Ótimo argumento. – sorri e continuei andando.
            - Oi. – eu disse me sentando perto de minha amiga.
            - Oi – ela levantou o rosto, seus olhos estavam inchados.
            - Você estava chorando?
            - Aquele imbecil não podia esperar um pouco para me fazer de boba na frente de todo o colégio não?
            - Provavelmente não, ele não é o estilo de pessoa que pensa nos outros. Mas pensa pelo lado positivo, ele quebrou a cara… literalmente. – ela riu – Então… já tem uma idéia de quem é o garoto de quem eu lhe falei? – mudei de assunto para animá-la.
            - Tenho. Por acaso o nome dele começa com “F”?
            - Talvez. Olha, ele vai à “playteen” hoje à noite, não quer ir comigo e com as meninas e nós, “coincidentemente”, nos encontramos com ele lá? – na verdade, eu não tinha falado nada com o Felipe, mas ele com certeza toparia.
            - Boa!
            - Às oito e meia?
            - Tá bom.
            - Você combina com as meninas que eu combino com ele.
            - Por que você não pode combinar com as meninas também?
            - Porque eu não vou só me encarregar dele, mas também com outros garotos.
            - São gatos?
            - Você vai ver.
            Saí de lá e fui até o meu lugar. Discretamente, peguei meu celular e mandei uma mensagem para Felipe.
            Hey, o que você acha da gente ir na playteen hoje a noite? Nem adianta dizer que não vai rolar, porque a Marina vai estar lá ( só pq eu disse q vc ia... ). A gente se encontra na entrada, às 8:45. bjs
            Depois de alguns minutos, ele respondeu.
            To dentro. Vejo vocês lá. Bjs
                Ótimo. Agora eu precisava avisar aos meus primos. Eu tinha prometido para eles que ia fazer com que eles conhecessem minhas amigas. Eu trataria de chamar outras meninas solteiras, pois seria uma decepção para eles estarem num lugar daqueles e não pegarem ninguém. Eu ri ao pensar na reação deles.
            - Está de muito bom humor hoje, – observou Danilo – o que aconteceu?
            - Nada, nada… Ah, Danilo, o que você acha de ir com a gente na “Playteen” hoje?
            - A gente quem, exatamente?                                                           
            - Bom, eu, Marina, Sofia, Felipe, Tom, Amanda, Rodrigo, Mariana, Bia, Isabella, meus primos…
            - Tá bom, já entendi. Vai muita gente. – dei uma risadinha.
            - Pois é. Mas, e então, você vai ou não?
            - Você vai, certo? – perguntou ele, uma sobrancelha levantando.
            - Não, vou ficar em casa lendo um livro de auto-ajuda. Claro que vou, né? – ele riu de meu sarcasmo.
            - Eu vou. – eu sorri e ele sorriu de volta.
            O resto do dia foi normal. Danilo implicava comigo, minhas amigas me contavam com detalhes o dia com os seus namorados e Sofia me contou o que aconteceu na entrada. Para variar, Fernando deu em cima dela e o Tom chegou bem na hora. Como ele é um pouco muito possessivo, partiu para cima de Fernando, que por acaso acabou se machucando feio.
            Eu tinha combinado de voltar para casa com Marina, já que morávamos muito perto. Quando estávamos virando a esquina, vimos Felipe e Fernando discutindo. Eu suspirei e Marina foi se meter no meio deles.          
            - Já chega de briga por hoje. Eu não agüento mais.                          
            - Mas… – começou Felipe.
            - Mas nada! Saiam já daqui. Agora! – eu estava assustada com a reação de Marina, ela nunca tinha agido assim antes. Como ela sabia que Felipe estava brigando com Fernando por causa dela? Bem, se tratando de Felipe, não é difícil deduzir isso.
            Fernando, como sempre, sendo um covarde, foi embora, nos deixando sozinhas com Felipe. Ele me olhou. Fiz que sim com a cabeça para incentivá-lo.
            - Por que você continua aqui, heim? Não entendeu o recado? – Marina empurrou-o na direção da casa dele.
            - Marina, eu preciso te falar uma coisa muito importante.
            - E o que é?
            - Eu estava brigando com o Fernando porque eu não agüentei vê-lo fazer isso com você… eu sempre soube que ele não te amava, mas não falei nada com medo de você acabar com a nossa amizade. Depois de um tempo eu percebi que essa preocupação toda que eu tinha com você não era apenas preocupação e sim amor. Eu te amo Marina e eu quero te fazer feliz… – ele não conseguiu terminar, antes disso, Marina pulou em cima dele e o beijou apaixonadamente.
            Senti um sorriso de vitória se formando em meus lábios. Só em pensar que eu fui a culpada por esse casalzinho de pombinhos eu já ficava feliz. Retirei-me de lá completamente feliz, mas sentindo que se eu continuasse encarando-os, eles iam me expulsar de lá.
            Cheguei a casa e liguei para os meus primos. Pedro atendeu ao terceiro toque.      - Fala priminha! Novidades?
            - Tenho uma boa para você e para o Biel – Biel era o apelido de Gabriel, o mais novo dos meus primos adolescentes.
            - Manda.
            - Que tal se nós três, eu, você e Biel fossemos à “playteen”?
            - Po, valeu priminha! Mesmo!
            - Eu tomei a liberdade de chamar umas amigas para ir também… – comecei, sabendo que ele rapidamente aceitaria.
            - Beleza. A gente passa aí quando?
            - As oito tá beleza, vou encontrar com elas lá as oito e meia, mas até a gente chegar na boate são quinze minutos e até achar uma vaga são mais cinco. O resto a gente fica se acostumando com o lugar.
            - Ótimo. Te vejo daqui a pouco. Beijo.
            - Beijo.                                                                                              
            Meu primo mais velho, Pedro, tinha 18 anos e já podia dirigir, inclusive beber, o que de certa forma me deixava preocupada. Ele era grande, mas só de tamanho, por dentro ainda era aquele garoto maluquinho e pegador que eu chamava de primo.
            O dia foi o que você poderia chamar de chato. Fui ao curso de francês, que eu estava quase terminando. Assim que voltei de lá, vi que alguém tinha me mandado uma mensagem.
            Caramba! Vc é o meu cupido, sabia? O Felipe me pediu em namoro hj praticamente por sua causa. Como eu pude ser tão estúpida? Aquele homão do meu lado e eu só pensando no idiota gostosão. Enfim, vc não precisa mais me esperar no lugar marcado, pq eu vou com ele, tá? As 8:45 lá na entrada, né?
            O mais rápido que pude, respondi a mensagem.
           
            Noossaa! Obrigada, eu não sabia que vc ia ter essa reação. Estúpida não, só cega... kkkkk . Vc ainda chama aquilo de gostosão?
É sim. Te vejo lá. Bjooos.
           
            Eu estava completamente ansiosa para hoje à noite. Nunca se sabe o que pode acontecer.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Atenção:

Olá pessoal! Eu queria pedir desculpas por nao ter postado os outros capítulos. É que eu estou no meio das provas e nao consigo entrar muito tempo. Eles estão prontos, só falta consertar algumas coisinhas... Enfim, eu queria pedir desculpas pelo atraso e prometo que vou recompensar.
Beijos,
Vanessa.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Capítulo 1 (Manuela): Alados

Segunda-feira, primeiro dia de aula, e eu já estava atrasada. Era inacreditável!
            Boa, Manu! Falei para mim mesma. Ótima maneira de começar o ano.
            O barulho do sinal me fez pular e correr escada acima. Para chegar até a minha sala de aula, eu tinha que subir cinco andares. Então precisava correr.
            Entrei na sala já esperando ver o professor dando aula, mas ele não estava presente. Ao invés disso, os alunos ainda estavam em pé, conversando.
            Dei uma olhada pelo lugar, procurando minhas amigas. Foi quando me deparei com ele. O cabelo negro e desarrumado acompanhado com um olhar de desdém e os músculos – certamente – bastante desenvolvidos eram ligeiramente familiares, como se eu já o tivesse visto antes, mas, por mais que eu tentasse, não conseguia me lembrar de onde. Ele usava o uniforme do colégio, que caia muito bem nele – o que era um milagre –, transformando a blusa pólo social sem graça em algo incrivelmente…
            Pelo que pareceu, meu olhar atraiu sua atenção um pouco mais rápido do que eu esperava, fazendo com que nossos olhos se encontrassem e eu ficasse com o rosto completamente vermelho.
            Como se não bastasse o rosto perfeito, ele sorriu de forma provocante e até um pouco mal-comportada – só tinha um probleminha, era também um pouco arrogante –, os olhos capturando os meus como se quisessem passar-me uma mensagem. Naquele momento, uma descarga de adrenalina tomou conta de mim e a sensação de conhecê-lo tornou-se ainda mais forte. Eu teria ido falar com ele, perguntar de onde veio para ver se conhecia, mas antes que pudesse fazer isso, senti que alguém pulava em minhas costas. Clara. Como sempre, ela estava com um grande sorriso no rosto.
Clara era uma menina extrovertida, com o cabelo cor de mel encaracolado até a metade das costas. Os olhos castanhos brilhavam, o que acontecia sempre que ela tinha algo para dizer. Ela começou a pular na minha frente, parecia uma criança.
            - Oi! Como foram as suas férias?
            - Divertidas. – eu disse, resistindo à tentação de olhar para trás – E as suas?
            - Perfeitas! Fui para a Disney e, adivinha, conheci um gato americano que você morreria de inveja! Era loiro, alto, olhos cinza, bom humor, bom papo, muito perfeito e, claro, tinha um tanquinho…
            - Ficou com ele? – perguntei, ansiosa. Minhas amigas sempre conheciam meninos gatos quando viajavam. Pena que isso nem sempre acontecia comigo.
            - Hmm… não. – ela fez beicinho.
            - Por quê?! – perguntei, indignada.
            - Porque o meu primo chegou bem na hora, ele impediu o nosso beijo e botou o David para correr.
            - Não acredito.
            - Nem eu. Fiquei muito irritada com ele, você nem imagina.
            - Hmm… você sabe quem é o garoto novo?
            - Ah, aquele? O nome dele é Danilo. Ele me parece meio tímido.
            - Tímido?! Te garanto que ele não é tímido.
            O olhar que ele me direcionou com certeza não era um olhar tímido.
            - Hmmm… suspeito. Está afim dele Manu? – disse clara, com um sorriso cúmplice.
            - Na-não, eu…
            - Você está afim dele! Mas já? Ele é lindo, mas já? Pega ele!
            Sorri. Ela era sempre tão franca e extrovertida que acabava falando demais. Imagine só, eu não era de me apaixonar tão facilmente por um garoto que eu mal conhecia e que certamente era metido demais para mim.
            Clara me puxou até a mesa de Amanda, minha melhor amiga. Ela era morena, cabelos castanhos e olhos cor de chocolate. Dona de um sorriso que poderia ser reconhecido à quilômetros de distância, ela que estava dividindo sua carteira com o seu namorado, Rodrigo. Ele era alto, moreno, cabelo preto e tinha olhos muito escuros. Cheguei até ela e cutuquei seu braço.
            - Hey! Lembra de mim ou esqueceu-se da sua melhor amiga?
            - Claro que não me esqueci de você. Nunca!
            Nos abraçamos e eu cumprimentei o namorado dela com um aceno de cabeça.  Ele sempre foi muito gentil comigo e com todas as minhas amigas. Um perfeito cavalheiro, diferentemente de certas pessoas.
            Ficamos conversando sobre as nossas férias e Clara desatou a falar do tal do David que ela jurava ser o garoto mais lindo do mundo… até que viu outro garoto novo. Loiro meio acinzentado, olhos de azuis a verdes, musculoso e bonito em total. Ele até que era bonitinho, mas não fazia o meu tipo, alguma coisa nele não me atraia. Logo descobri o que era.
            Ele veio conversar com a gente, parecia legal, mas realmente era o tipo da Clara. Tinha um bom papo, engraçado e um pouco sarcástico – exatamente o que me atrai num garoto -, mas não tínhamos muita coisa em comum e isso acabou com a primeira impressão de um possível mais que amigo.
             A professora entrou na sala e todos foram para seus lugares. Ela era loira – mas não natural, o que ficava bem evidente por causa da tinta de baixa qualidade –, magra e usava uma blusa florida colada no corpo com calça jeans.
 Apesar de não gostar nada da idéia, sentei-me a frente de Amanda e atrás de Danilo. Estar tão perto dele fez-me sentir todo o corpo formigando.
            - Bom dia classe. Meu nome é Anna Clara, mas podem me chamar de Anna. Sou professora de literatura. Bom, eu não sei o nome de todos vocês ainda, mas logo vou saber. Agora eu gostaria que todos, por favor, levantem-se e digam seu nome, de onde vem se são novos e seus sonhos.
            Que ótimo. Eu realmente odiava falar em público, era a pior coisa do mundo. Bom, pelo menos eu estava na metade da sala, ou seja, não seria nem a primeira e nem a última da classe a falar.
            - Comece por você – disse Anna para Joana, uma das meninas mais extrovertidas da sala, depois de Clara.
            A menina desatou a falar e eu entrei no meu mundinho particular que eu criava quando não tinha nada para fazer. Fiquei pensando nas minhas férias – como tinham sido boas, apesar de ter a minha mãe me impondo muitas obrigações da casa, o que não era nada legal – enquanto fazia desenhos sem sentido no caderno.
            Voltei à realidade quando Danilo se levantou e começou a falar. A próxima era eu e devia estar atenta, ou era disso que eu tentava me convencer.
            - Meu nome é Danilo Campos, sou aluno novo e estudava em… lugar nenhum. Meu sonho é… bom, eu não tenho.
            - Noooossaaaa. Genial. – ouvi Clara falar eu não consegui segurar o riso. A sala toda me acompanhou.
            - Se você acha isso genial, espere até eu me esforçar para me fazer de gênio. – disse ele, piscando para ela. Clara cerrou os olhos para Danilo, que abriu um sorriso que seria capaz de fazer qualquer garota se ajoelhar aos seus pés, mas Clara não era esse tipo de garota.
            - Duvido que consiga alguma coisa com esse seu papinho de sabe tudo. – o sorriso de Danilo se abriu.
            - Calma, calma. Já chega. Você disse que nunca estudou antes, hmm… Danilo?
            - Isso.
            - Mas como? Isso é impossível. Existem leis que obrigam as pessoas a estudar.
            - Jura? – ele fingiu uma surpresa inocente – Ninguém nunca me disse isso. – a classe inteira riu.
            A professora ficou realmente confusa. A final de contas, se os pais dele podiam pagar uma escola particular, então ele necessariamente deveria estar estudando.
            - Estranho. Hmm…Obrigada por se abrir conosco. – Danilo pareceu confuso em relação a essa última parte.
            Legal. Minha vez. Levantei-me.
            - Meu nome é Manuela, sou desse colégio desde o ano passado e meu sonho é ser veterinária. – ouvi o menino da minha frente rir. Senti a maior vontade de perguntar qual era a graça, mas me contive. Chega de briga por hoje.
            - Obrigada. Próxima.
            Sentei-me e me desliguei da realidade de novo. O resto das aulas foi exatamente igual à primeira, mas sem apresentações. Durante a terceira aula, um papelzinho voou por cima do ombro de Danilo e caiu na minha mesa. Tinha o meu nome escrito.
                        Desligada durante a aula? Nada bom para o início do ano, não acha?
                        Ah, sobre hoje de manhã… desculpa, não quis te deixar sem graça daquele jeito e foi mal por rir do seu sonho, mas eu acho que você se daria melhor como modelo ou atriz do que como médica de animais, que não podem admirar seu valor...
            Atenciosamente,
                                   D.
            Meus olhos se estreitaram. Que babaca! Ele estava zoando com a minha cara, eu tinha certeza! Enchi-me de raiva quando li a parte dos animais. Eles saberiam admirar meu valor melhor do que ele. Idiota!
            Virei o papel e escrevi.
                            Obrigada pelo conselho, assim eu terei certeza do que NÃO fazer!Ah, e em relação aos animais só tenho uma coisa a dizer: admirariam meu valor mais do q você!
            Depois de um tempo recebi outro bilhete.
                        Não tenho tanta certeza disso.
                Idiota!
O sinal tocou e as pessoas se levantaram para conversar. Rasguei o papel e amassei os pedaços com toda raiva que tinha. Ouvi um riso vindo da frente. Dessa vez não me segurei.
- Qual é a graça?!
            Ele se virou e sorriu do mesmo modo que havia sorrido para Clara. Pelo jeito, adorava implicar com as meninas. Ele devia achar que isso nos seduzia.
            - Você é a graça.
            - Pois eu não acho nada de engraçado em mim.
            - Mas eu acho.
            - Hmpf. – me levantei e fui até a carteira de Sofia, duas cadeiras de distância da dele. Mesmo assim, não era longe o bastante. – Oi, por que se atrasou para a aula hoje?
            Sofia era uma menina que poderia ser considerada um anjinho: carinhosa, fofa, sempre presente e sensível. Tinha os olhos cor de mel e o cabelo meio castanho, meio cor de mel. Ela tinha entrado na sala no segundo tempo porque se atrasou. Na verdade, eu sabia o motivo. Ela raramente se atrasa, então, ela deve ter ficado presa no trânsito ou então acordou tarde. Mas eu queria me desligar do menino que me irritara momentos atrás.
            - Meu despertador não tocou e acordei com a minha irmã me chamando. – a irmã de Sofia era universitária (estudava pedagogia, coitada) e entrava mais tarde na faculdade.
            - Ah.
            - Está… tudo bem com você? – perguntou ela, me olhando com preocupação.
            - Está sim… é o garoto que eu conheci que não me deixa em paz.
            - Hmm… sei.
            - Hey, eu não estou afim dele.
            - Calma, eu não disse nada, você que está ouvindo coisas...
            Comecei a rir. Mesmo não gostando muito de sua indireta, era incapaz de ficar brava com Sofia, sempre uma ótima amiga – eu tinha uma séria desconfiança de que era por isso que nós tínhamos nos tornado amigas.
            Nos abraçamos e cumprimentei seu namorado, Tom. Eles começaram a namorar nas férias. Ela me ligou às dez horas da noite para dizer que ele fez o pedido. Naquele dia, Amanda estava dormindo na minha casa e nós duas quase acordamos os meus pais de tanto gritar – olha que eles têm sono pesado, heim?
Tom me pareceu a fim de ficar sozinho com a namorada, como se já não passassem tanto tempo juntos...
            Circulei pela sala para conversar com outras amigas minhas que não tinha dado tempo de conversar. Vi Marina sentada em sua cadeira com uma cara triste, que não combinava em nada com o cabelo loiro escuro e o rostinho de criança. Fui até ela e sentei-me a seu lado, dividindo a carteira.
            - Oi, o que houve?
            - O Fernando terminou comigo.
            - Jura?! – eu sabia que ele não era gente boa, sempre dava em cima de umas garotas da escola, mas me fingi de inocente. – Por que vocês terminaram?
            - Ele falou que queria uma garota mais “aberta” – as aspas estavam devidamente expressadas – e ainda disse que nunca gostou de mim de verdade. – um brilho apareceu em seus olhos, pareciam lágrimas.
            - Ah, desencana. Ele nunca foi bom o bastante para você. E, para te falar a verdade, conheço alguém que te merece, e muito.
            - Sério? – ela já estava se animando – Quem?
            - Se vira filha, só posso te dizer que ele não é da nossa turma, mas eu já reparei o jeito como ele te olha no recreio, como, literalmente, ele te segue e depois finge que vocês se encontraram apenas por coincidência...
            - Manuela, me fala logo quem é esse fofo!
            - Você que tem que descobrir. Aliás, nem que eu quisesse poderia te contar. A professora chegou.
            - Você é muito sem graça sabia?!
            - Também te amo fofa!
            Fui para o meu lugar e refleti sobre o que acabei de falar para minha amiga. Não era mentira. Qualquer um conseguia enxergar o amor que o Felipe sentia por ela, menos a própria Marina.
            Eu achava essa situação muito fofa, típica de filme de romance. Os olhos dele brilhavam só em ouvir o seu nome. Na festa de quinze anos de Marina, ele foi atrás de mim e me assustou, assumiu o seu amor por ela e me perguntou se eu poderia ajudá-lo. Fiquei tão surpresa que a ficha demorou a cair, quando caiu, eu disse que era só ele ser ele mesmo que ela ia entrar na dele. Ela já tinha comentado comigo sobre a “fofura” do Felipe e eu quase pulei de alegria ao ver seus olhinhos brilharem. Que fofo! Eles formam um casal muito lindo e, como eu já pesquisei, o signo deles combinam direitinho..
            A professora se postou no meio da sala e disse tudo que os outros disseram: nome, a matéria e as regras da classe… foi então que ela falou o que todos nós não queríamos ouvir.
            - Agora eu gostaria de falar sobre o trabalho em grupo que vocês vão fazer na primeira semana de prova. Estou alertando a vocês com um mês de antecedência para se prepararem…
            - Professora, – um garoto levantou a mão, ele era conhecido como o palhaço da turma e sempre discutia com os professores. – você não pode fazer isso. Nós temos o direito de não nos preocuparmos com esse tipo de trabalho até as semanas de provas.
            - Pois o senhor que se acostume com esse método de trabalhos, vai ser assim o ano todo.
            - E se a gente fizer uma greve?! – ele enfatizou bem essa palavra.
            - Se vocês fizerem greve, tiram zero.
            - Isso é uma grande sacanagem!
            - Meu salário também é uma sacanagem.
            - Então você desconta na gente?
            - Chega, se você continuar atrapalhando a aula, eu te boto pra fora!
            - Quem disse que eu estava dentro? – a classe toda riu ao ver o segundo sentido.
            Ela o ignorou e continuou a aula. Explicou que nós deveríamos fazer o trabalho sobre os nomes mais importantes da história desde o império romano até Napoleão Bonaparte. Cada grupo deveria escolher um grande nome e fazer sua bibliografia. O grupo era de quatro pessoas. Uma pessoa falaria de seu nascimento e família, outro falaria das maiores conquistas, outro das derrotas e outro da morte.
            - Os grupos serão sorteados – merda – Eu escolherei os “capitães”, que são aqueles que coordenarão o grupo. Depois, eu sortearei o resto dos grupos.
            Ela começou a sortear os números dos capitães. De repente eu tomei um susto. Ela falou o meu número e eu nem tava preparada para isso. Nunca fui boa em coordenar grupos. Na maioria das vezes, outras pessoas começavam o assunto e então eu continuava. Após sortear os coordenadores, a professora então passou para o resto do grupo.
            - No grupo da Manuela estão os seguintes números: 21, 33 e 15.
            Até ela dizer o último número eu estava feliz. As pessoas do meu grupo eram Sofia, João e… Danilo. Não era possível, essa criatura me segue aonde quer que eu vá! Mais um bilhetinho voou pelos ombros de Danilo.
                        Estamos no mesmo grupo, parece que você me persegue.

                        Olha só quem fala! Você que me persegue desde que nos conhecemos.
           
                  Não posso fazer nada se me senti atraído por você.
                Fiquei vermelha ao ler o que ele escreveu. Mesmo sabendo que ele o fez só para que eu tivesse aquela reação, eu não pude evitar. Foi automático.
                        Se é assim que você mostra que está atraído por alguém, então não quero ver quando você resolver irritar uma pessoa que não tem nada a ver com a sua vida.
.
                E quem disse que você não tem nada a ver com a minha vida?
               
        É óbvio que eu não tenho. Nem te conhecia há pouco tempo atrás, antes de descobrir que você é um chato, implicante e grosso.

Dizem que os sentimentos se confundem.

Senta lá, Cláudia!
Pude ouvir o seu riso ao ler o bilhete. Cruzei os braços com força para não dar um pedala Robinho nele. O sinal tocou. Como o tempo passou tão rápido? Olhei para o meu relógio, era mesmo 10 horas. Caramba!
Sofia apareceu na minha frente.
- Tenho uma má noticia.
- Pode falar, mais uma não vai fazer diferença.
Ela me olhou como se quisesse dizer “meu Deus! Você ta muito deprê, sabia?”, mas continuou.
- Bom, as provas começam daqui a três semanas e é antes da prova de matemática e depois da prova de português.
- Droga! Então a gente vai ter que se reunir antes das provas…
- Olha, pode ser na minha casa.
- Não, não. A gente se reúne na minha casa daqui a uma semana, tá bom?
- Tá. Só falta falar com os garotos. Eu posso falar com o…
- Eu falo com o João. Fala com a coisa, por favor.
- Era o que eu ia falar, mas você não deixou.
- Foi mal. Eu preciso de ar fresco.
- Concordo. Vamos?
- Aham. Eu queria pedir desculpas pelo meu mau humor. Acho que estou de TPM – falei baixinho para ninguém ouvir.
- Entendo. – me parecia que ela não achava isso, mas não queria me irritar. Amanda nos encontrou na porta. Estava sem o namorado.
- Hey, adivinha no grupo de quem eu estou? – como não falamos nada, ela mesma respondeu a própria pergunta. – Do Drigo e do Carlos. – o Carlos era o primo de Amanda e, de certa forma, meu primo também, só que de consideração. A propósito, Drigo era o apelido de Rodrigo, o namorado fofíssimo da Amanda. – Não é o máximo?
- Que bom para você, amiga! Nós estamos no mesmo grupo, mais o João e o Danilo. – disse Sofia.
- Hmm. O garoto novo. Aquele que teve problemas com a Clara.
- Não só com ela. – disse Sofia. Olhei-a de cara amarrada.
- Manu, tem alguma coisa que você não me contou?
- Te falo depois.
O resto do dia foi o que podemos dizer normal. Conversamos sobre as coisas de sempre no recreio – garotos entre outros –, durante a aula, Danilo não me irritou mais. Só um sorriso de vez em quando, ao me ver falar com minhas amigas sobre o mais novo galã, aconselhando-as sobre o namoro e, principalmente, dando dicas a Marina sobre quem era o seu admirador. Ela quase me partiu em duas porque eu nunca falava o nome do menino, mas eu tinha uma desconfiança que no fundo ela soubesse quem era.
Voltei para casa acompanhada por João e Leonardo, meus melhores amigos, eles eram meio maluquinhos e ficavam se sacaneando o tempo todo enquanto eu ria deles.
Cheguei à casa meio dia e meia, almocei e descansei um pouco. Fiz os deveres, e fui a minha aula de francês. Tomei um banho, naveguei um pouco na internet e apaguei na cama depois de ver o terceiro episodio da terceira temporada de Glee.


Eu estava em uma praia. O sol não estava alto, mas o céu estava lindo. Parecia coisa divina, quando as nuvens ficam na frente do sol, seus raios atravessavam algumas áreas, as nuvens ficavam brilhantes nas pontas e brancas no meio. Lembrei-me de quando o professor de religião disse que isso representava o espírito santo. Olhei para o mar. Não estava agitado, nem tão calmo. Era de uma mistura de verde e azul, parecia o paraíso.
Um barulho me chamou a atenção. Ele estava sem camisa, mostrando seu corpo desenvolvido, a bermuda pendia baixo na cintura e o cabelo negro estava completamente encharcado. Danilo sorriu para mim. Nesse momento eu senti um friozinho na barriga. Olhei para baixo e percebi que estava de biquíni. Como? Como eu não tinha percebido ainda? Olhei para cima, ele já estava muito perto. Seu sorriso aumentou ao ver meu rosto – que devia estar confuso –, pousou sua mão em meu rosto e se aproximou. Para minha surpresa, eu não desviei o rosto. Seus lábios tocaram os meus, eu realmente estava no paraíso...
Acordei no meio da noite, a respiração entrecortada. Coloquei a mão no peito e olhei em volta, tentando voltar à realidade. O sonho tinha sido bom, mas também tinha sido ruim. Levantei-me e fui tomar um copo d’água. Quando voltei para a cama, não conseguia parar de pensar em Danilo – não o Danilo real, o Danilo de meu sonho –, ele parecia tão feliz e apaixonado em me ver que eu fiquei vermelha só de lembrar.
Só consegui dormir depois de alguns minutos.


No dia seguinte, cheguei à escola com muito sono, mal conseguia ficar em pé direito, quem dirá sair andando por ai. O pesadelo da noite anterior não me deixou dormir direito.
- Oi! – Isabella apareceu do nada na minha frente, fazendo-me pular de susto.
- Hey! Como você está?
- Bem… na verdade eu estou muito animada para o meu primeiro dia de aula, já que eu faltei ontem. Pena nós não estarmos na mesma turma, não é? Como você sabe, eu estava viajando para Paris e acabei me apaixonando pela cidade, não sei como, mas eu consegui convencer os meus pais de ficar por lá mais um dia.
- Fala aí, como é Paris?
- É linda, os arcos do triunfo são perfeitos quando vistos pessoalmente. Os parques são muito românticos, até tive que sair de perto dos meus pais para não vomitar. – rimos juntas. Eu estava com saudade de Isabella e de seu jeito de ser, o que muitos chamam de maluco. – Você deveria ir lá, ia adorar. Principalmente sendo romântica como é.
- Talvez eu gostasse, mas você sabe que eu nunca fui muito a fim de sair do país para ver essas coisas. O nosso país é tão grande que eu aposto que se passasse a vida toda viajando, não conseguiria ver tudo, então, por que sair dele?
- Não sei, talvez porque os outros países parecem ser melhores do que o nosso.
- Talvez.
Os inspetores apitaram e nós subimos para nossa sala. Isabella não tinha se acostumado em subir todos os cinco lances de escada. Ela reclamava a cada andar que subíamos e eu concordava com ela, ninguém merece subir cinco lances de escada às seis e cinqüenta da manhã todos os dias.
Nos separamos no corredor e encontrei minhas amigas na sala, cada uma com seu respectivo namorado. Das solteiras, Marina estava conversando com Sofia e Tom e Clara estava conversando com Gabrielle, sentada em sua mesa.
Fui até meu lugar e separei meu material para a primeira aula. De repente eu me senti de um jeito estranho, como se eu estivesse completa, tivesse achado a metade de mim que eu não sabia que estava procurando. Automaticamente, olhei para cima.
- Feliz em me ver? – Danilo deu um sorriso torto que fez meu coração perder o compasso.
- O que te faz acreditar nisso?
- O fato de ter sorrido ao me ver.
- Eu não sorri. – ele levantou as sobrancelhas – Claro que não. – pelo menos era o que eu achava.
- Se é isso que você acha… – ele disse, dando de ombros.
Passei por ele, esbarrando em seu ombro, e fui falar com as pessoas que realmente me interessavam. No caminho, pensava na sensação que tive com a aproximação de Danilo. Isso me deixava muito confusa e até um pouco decepcionada. O que tinha de errado comigo?
Esbarrei em alguém.
- Me desculpe… Marina? – Ela parecia preocupada, os olhos encontrando os meus. O que será que tinha acontecido agora?
- Você está bem? – perguntou ela, lentamente.
O que? Então ela estava preocupada comigo? Por quê? Será que eu estava agindo tão estranhamente assim?
- Oi? Ah, estou sim. Por que a pergunta?
- Porque você não parece muito bem…
- Problemas comuns na vida de uma adolescente.
- Claro.
- E aí? Já descobriu quem é? – perguntei, doida para mudar de assunto.
- Não, eu fui perguntar para o Felipe – que era o menino que gostava dela – e ele ficou muito bravo comigo. Me falou que eu não podia ficar procurando por um menino que não existe. Poxa, acabou com as minhas esperanças.
- Ele não devia estar bem. Vai ver ele brigou com um amigo e estava de cabeça cheia.
- No recreio ele estava normal comigo.
- Hmm… estranho.
Na verdade, eu sabia o porquê da reação dele. Os meninos parecem ser de espécies diferentes da nossa. Quando estão enciumados, eles partem para cima da gente com grosseria. O que eles queriam fazer com os seus “rivais” e não com a gente.
- Ele não fala mais comigo. – disse Marina, olhando para baixo com o rosto triste.
- Que palhaçada! Eu vou falar com ele. – eu disse para ele que deveria ser ele mesmo, ou seja, fofo como sempre e não dar uma de idiota grosso. Já basta um na minha vida.
- Não precisa. Já, já ele pára com isso.
- Mesmo assim. Ele não é assim, tem alguma coisa de errado acontecendo. – muito errado.
- Está bom então.
         - Pode deixar que eu dou um jeito nele. – seus olhos se arregalaram, tinha um pouco de ciúme neles. Eu ri. – Não desse jeito. – ela deu uma risadinha.
            - Obrigada! – me abraçou.
            A professora de inglês entrou na sala e eu tive que ir para o meu lugar. Minha cara, obviamente, não estava nada boa: minha amiga estava brigada com o garoto que era seu príncipe encantado, ele estava raivoso de ciúme dele mesmo e eu estava com raiva de mim mesma e do menino na minha frente. Sentei na cadeira e suspirei pesadamente.
            - Cara feia dá ruga, sabia? – disse Danilo enquanto se sentava.
            - Não me enche que hoje eu não estou para isso.
            - Quanta agressividade! – ele fez uma cara de surpresa bem fingida.
            - Você não tem mais nada para fazer não?
            - A minha vida se resume a você. – disse ele.
            Automaticamente, seu jeito de falar me levou ao sonho da noite anterior e eu, infelizmente, fiquei vermelha. Esse simples acontecimento fez com que um sorriso de vitoria aparecesse em seus lábios.
            - Não… não fale besteira. – gaguejei.
            - Você não parece achar que é besteira. – fugi de seu olhar.
            - Claro que acho.
            - Então por que ficou vermelha?
            - Não era por sua causa que eu fiquei vermelha.
            - Claro que não, foi por causa do que eu falei.
            - Meu Deus, dá pra me esquecer?!
            - Já te disse que isso é uma coisa impossível.
            - Então pelo menos finge.
            - Também é uma coisa impossível. – suspirei com raiva. Ele estava me olhando de um jeito estranho. Me lembrava o jeito que me olhava no sonho. Só naquele momento eu percebi que seus olhos eram verde-esmeralda. Lindos, os mais bonitos que já vi.
            - O que está olhando? – eu disse.
            - Admirando a sua beleza. – um sorriso provocante parecido com o do primeiro dia de aula surgiu em seu rosto.
            - Claro. – fui sarcástica. O sorriso aumentou.
            - Dá para o casalzinho parar de namorar, por favor – a professora nos chamou a atenção.
            - Droga – falei tão baixo que eu pensei que Danilo não seria capaz de ouvir, mas, como sempre, ele foi imprevisível e ouviu. Seu sorriso se tornou divertido e depois ele se virou para frente.
            A professora continuou a aula que já estava quase no final. Eu já tinha me formado no curso, então a matéria que ela estava dando era fácil. Às vezes, durante a aula, Danilo agia de modo estranho, parecia que ele estava doido para se virar e falar alguma coisa, mas nunca o fazia. Eu estava prestes a explodir de ansiedade para que a aula acabasse.