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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Capítulo 2: Alados



            O sinal tocou e nós saímos da sala. Quando estávamos na porta, ouvi alguém me chamando.
            - Manuela!
            - O que houve? – Danilo se aproximou de mim. Eu já estava esperando que não fosse coisa boa.
            - Você deixou cair isso. – me entregou um papel dobrado em seis, piscou para mim com um sorriso torto e foi embora.
            Eu nunca tinha visto esse papelzinho antes, então o abri.

                        Me encontre hoje, depois do colégio, na praia. Quero conversar com você.
                                                                                                          D.

                O que ele queria comigo? Um calafrio percorreu todo o meu corpo. Amanda tentou arrancar o papel de minha mão, mas eu não conseguia descongelar meus dedos. Ela me olhou com cara feia, depois com preocupação.
            - O que está escrito aí? Ele não está te ameaçando não, está?
            - Não, mas está pedindo para que eu me encontre com ele hoje, depois do colégio.
            - Não brinca? Seu primeiro encontro! Que máximo!
            Se eu estivesse no lugar dela, óbvio que eu reagiria da mesma maneira, mas eu sabia o que Danilo fazia comigo. Ele me assustava, de um jeito bom, mas mesmo assim me assustava.
            - E então, você vai? – perguntou Amanda, quando eu não disse nada.
            - Eu… eu não sei.
            - Claro que ela vai… não é? – dessa vez era Clara.
            - Gente, vocês estão deixando ela nervosa. – Marina interveio a meu favor.
            - Tá bom, foi mal amiga.
            Bom, não havia mal nenhum em sair com ele… desde que eu não me apaixonasse.
            - Tudo bem. Eu vou.
            - Você vai?!
            - Claro. Se ele quer conversar, tudo bem.
            - Quem diria, Manuela saindo com o garoto que ela acabou de chamar de chato irritante.
            - Pois é. – chegamos ao pátio, por onde éramos obrigados a sair do colégio, pois, se não saíssemos, o pátio ia explodir de tanta gente.        
            - Hey! – Isabella disse – Como vão? Eu acabei de descobrir que estou na turma da Mariana, da Bia e da Carol. É muito legal ficar do lado delas. A gente passou a aula toda conversando – ela sorriu de modo travesso. – Mas então, deixa eu contar para vocês…

            Naquele dia, saímos do colégio pouco antes do horário normal – 12:00. Estava nervosa com o “encontro” na praia com Danilo. As aulas tinham sido normais. Nem Danilo nem mais ninguém falou sobre o bilhete, o que me deixava ainda mais nervosa.
            Fui andando até a praia sozinha. Não queria que nenhuma amiga minha desse uma de guarda-costas. Cheguei lá, a praia estava deserta. As ondas eram o único som que podia ouvir, o céu estava nublado, mas bonito.
 A alguns metros de distancia de mim, mais perto do mar, estava Danilo, sentado na areia e encarando o oceano. Ele parecia feliz e calmo, o que era muito estranho. Respirei fundo antes de andar até ele devagarzinho.           
Talvez o som de meus pés na areia tenha o alertado de minha presença, pois ele levantou a cabeça lentamente. Seus olhos demonstravam uma alegria em estar naquele lugar. Um meio sorriso me deu a certeza desse sentimento.
            - Você veio.
            - Por que não viria? – perguntei enquanto me sentava ao seu lado.
            - Porque tem medo de mim e porque tem que resolver um problema entre sua amiga e o Felipe.
            Meu corpo paralisou por alguns segundos antes que eu pudesse responder.
            - Como você sabe de tudo isso?
            - Tenho minhas fontes. – disse, voltando a olhar para o oceano.
            - Hmm.
            - Estranho.
            - O que é estranho?
            - O fato de você não ter brigado comigo por eu ter dito que você tem medo de mim.
            - Não sou tão infantil assim. O que você acha ou deixa de achar não me importa.
            - Muito madura. É nervosismo por minha causa?
            - Claro… que não. – ele riu debochadamente.
            Voltei a observar o oceano, sendo hipnotizada pelo movimento eterno das ondas e pela claridade da água. Quando dei por mim, já tinham-se passado quase dez minutos de silêncio absoluto.
            - Você gosta de estar aqui. – disse Danilo quando voltei a realidade.
            - Você também. – falei. Ele esboçou um sorriso em resposta.
            - Que tipo de pessoa não gostaria de praia?
            - Conheço algumas.
            - Cariocas?
            - Sim, mas sempre achei que essas pessoas tinham problema na cabeça, então… – dei de ombros. – Mas porque exatamente você me chamou aqui? Disse que tinha que conversar comigo…
            - Só queria ver se já tinha começado. – disse ele, como se estivesse respondendo a uma pergunta no estilo de “Qual o seu nome?” – Pelo visto, ainda não. – creio que a última parte não era para eu ter ouvido.
            O.K., agora eu estava confusa e assustada ao mesmo tempo. Do que ele estava falando? O que já tinha começado? Será que agora, além de irritante e misterioso ele era maluco? Ah, não. É demais!
            - Começado o que? – perguntei, revendo em minha mente se havia deixado alguma parte da conversa escapar.
            Nessa hora, ele me olhou como se tivesse acabado de perceber que tinha falado demais e mudou de assunto.
            - E aí, você mora aqui perto?
            - Não adianta mudar de assunto. Do que você estava falando?
            - De nada.
            - Está me deixando curiosa! – falei, dando um tapinha em seu braço.
            - Que pena. – respondeu ele, abrindo um sorriso de garoto malvado.
            Fechei a cara apesar de estar morrendo de vontade de sorrir de volta. “Bom,” pensei “se ele não vai me contar porque me chamou aqui, acho melhor acabarmos por enquanto e continuarmos depois”. A final de contas, eu já tinha passado do horário de estar em casa.
- Bem, eu acho que vou para casa… – disse, levantando-me.
            - Não vai. – pediu ele, segurando minha mão.
            - Mas a gente não tem mais nada para falar um para o outro.
            - Me conte sobre a sua vida.
            - É uma vida normal. – eu disse, voltando a me sentar.
            Os olhos de Danilo brilhavam muito, como se um universo de segredos estivesse escondido por detrás deles. O problema é que, ao mesmo tempo que revelavam a presença de algo de diferente, seus olhos eram impenetráveis, tornando impossível a revelação deles.
            - Nada que possa me contar? – perguntou ele, desconfiado.
            - Definitivamente, não. – saiu um pouco mais rude do que eu esperava, mas não pude fazer nada.
            - Não há nada sobre mim que você queira saber?
            - Não… por quê?
            - Pelo modo como me olhou, deduzi que quisesse saber alguma coisa em especial Ah, eu não tenho namorada. Pode ficar tranqüila.
            Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.
            - Primeiro: quem disse que quero saber alguma coisa de você? Segundo: não ligo se tem namorada ou não.
            - Posso falar uma coisa?
            - Não.
            - Você mente muito mal.
            - Não estou mentindo.
            - Vou fingir que acredito em você.
            - Não preciso que acredite em mim.
            Era impressionante como não podíamos ter uma conversa normal, sempre acabávamos agindo como crianças. Cruzei os braços em protesto e fuzilei o mar com os olhos. Por que ele sempre tinha que ter uma resposta pronta para tudo?
            Ele sorriu de modo divertido. Estava achando graça. Aah!
            - Você fica ainda mais linda quando está com raiva. – na mesma hora, meu rosto ferveu e eu não sabia o que dizer no inicio. Como ele fazia isso comigo?
            O sorriso aumentou.
            Olhei para o relógio e fingi um susto.
            - Caramba, olha a hora! Tenho que voltar para casa! – levantei-me correndo. Se visse aquele sorriso mais uma vez, ia ficar maluca!
            Porém, quando comecei a me afastar, ele chamou meu nome.
            - Te vejo amanhã? – surpreendentemente, ele estava sério.
            - Claro. – e então fui embora.                                                           
            Voltei para casa com uma boa sensação. Temia que estivesse sentindo algo a mais pelo menino chato e sedutor que havia conhecido há pouco tempo. Eu não sabia explicar, era como se ele tivesse o controle de todas as minhas reações, como se me conhecesse há anos. Bem, fosse o que fosse, não estava muito a fim de descobrir o que era.
            Quando cheguei, tranquei a porta e depois chequei se estava realmente fechada duas vezes. Não estava com fome, então tomei um banho e me preparei para a guerra que eu iria ter com Felipe Grigory – ele tinha o mesmo sobrenome que o meu só que o meu Grigori terminava com “i” e o dele, com “y” –. Peguei meu celular e liguei para ele – tinha conseguido o seu número depois da festa em que ele declarou seu amor por Marina – ele atendeu no segundo toque.
            - Alô.
            - Felipe Grigory, o que você pensa que está fazendo?!
            - Do que você está falando?
            - Do fato do senhor ter brigado com a Marina por ciúmes.
            - Quem disse que foi por ciúmes?
            - Eu sei. Ela me contou que desabafou com você e, em vez de ajudá-la, você soltou os cachorros para cima.
            - Por acaso ela te contou sobre o que ela quis desabafar comigo?
            - Ela foi perguntar a sua opinião sobre quem você acha que pode ser o menino fofo que ela detalhou.
            - Não me lembre do olhar dela ao detalhá-lo. Como você queria que eu reagisse? Sabe que eu gosto dela, não agüentei vê-la falando de mais um aproveitador…
            - Você não vai achar que ele é um aproveitador quando descobrir quem é.
            - Duvido.
            - Tá, a escolha é sua. Você.
            - O que?!
            - Exatamente, você é o príncipe encantado dela.
            - Sério? Eu, sou eu? Ela gosta de mim!
            - Foi o único jeito que eu achei para fazer o meu papel.
            - Valeu Manu. Obrigado mesmo, você é uma ótima amiga!
            - De nada, fofo. – rimos. Ele transbordava felicidade.
            - Vou falar com ela amanhã...
            - Não! Espera ela deduzir sozinha. O plano é esse: eu vou dando mais detalhes para ela sem dizer o nome. Você continua fazendo o que sempre faz e ela vai descobrir rapidinho.
            - Tudo bem. Obrigado, mais uma vez.
            - Nada. Beijos.
            - Beijos. – desligou.
            Pronto, trabalho feito. Podia passar a tarde toda numa boa, mas me senti mal. Minha coluna estava uma droga. Tomei um remédio e apaguei no sofá.
            A noite foi tranqüila, não sonhei com nada. Acordei às seis e sai para o colégio um pouco mais cedo do que o normal. A dor nas costas parecia ter aumentado, o que me preocupou.
            Quando cheguei, o pátio estava praticamente vazio, apenas com algumas pessoas do nono ano que chegaram mais cedo para sabe-se lá o que. Nenhuma amiga minha tinha chegado ainda, então eu me sentei no banco onde elas sempre ficam e peguei meu caderno de matemática, onde desenhei vários corações distraidamente. Ouvi um barulho perto de mim e levantei a cabeça.
            Danilo se apoiou na coluna que havia ao meu lado e deu um sorriso torto que fez com que o meu coração acelerasse.
            - Não sabia que era uma nerd. – provocou.
            - Não sou.
            - Então está fazendo o que? – perguntou, tentando ver o que eu havia desenhado. Fechei o caderno rapidamente.
            - Não é da sua conta… – ele sorriu e, com um reflexo rápido, arrancou o caderno de minha mão, folheando-o até achar a folha certa – Com licença!
            Estava desesperada. E se ele achasse que os corações eram para ele? Tentei pegar o livro de volta, mas Danilo não deixou. Me levantei e o cerquei para recuperar meu material, mas ele era mais rápido que eu. Depois de muito tempo, ele levantou-o sobre a cabeça.
            - Deve ser bastante importante para que eu não possa ver.
            - Me devolva isso!
            - Hei, não grite. Está cedo demais para isso. – disse, colocando o dedo indicador na frente da boca e pedindo silêncio.
            - Por favor? – implorei.
            - Hmm… deixe-me ver… não.
            - Por que faz isso comigo?
            - Porque é divertido.                                                                         
            - Poxa, eu não estou bem hoje. Minha coluna ta doendo muito. Por favor! – ele parou, seu rosto ficou preocupado.
            - Dores na coluna?
            - Não te interessa. Dá para me devolver? – estendi a mão, mas ele me ignorou.
            - Onde são as dores, especificamente? – abaixei a mão.
            - Não sei direito. Entre os rins e os ombros, talvez.
            Danilo colocou meu caderno sobre o banco e mudou sua posição para tensa.
            - Merda. – resmungou.
            - O que foi? É algo grave?
            - Não. – ele se aproximou e me fez sentar no banco. Sentou-se ao lado – É uma coisa rara que só acontece a cada mil anos.
            - É mesmo? E o que é? – ele olhou para os dois lados (como se fosse um grande segredo) antes de responder.
            - Carregar peso demais na mochila. – disse ele, caindo na gargalhada.
            Encarei-o por um momento, sentindo-me uma idiota. É claro que ele ia querer me sacanear. Claro!        
            - Tem que ver a sua cara! – disse, ainda rindo.
            - Não, obrigada – Levantei-me do banco, irritada. Não podia acreditar no quanto eu tinha sido burra. Aah!
            - Ah, qual é? Não vai ficar chateada, né? – disse ele, se aproximando de mim mais do que o que eu consideraria confortável e me abraçando.
            - Sai… – infelizmente, não saiu nem um pouco convincente.
            - Me desculpa? – perguntou, me olhando nos olhos e fazendo com que eu me desmanchasse.
            - Danilo… – ele tombou a cabeça um pouco para o lado. Parecia um cachorrinho pidão. Eu estava quase me rendendo a ele quando ouvi uma voz conhecida.
            - Bom dia, galera! – Mariana se materializou na nossa frente.
            - B- bom dia. – gaguejei enquanto me livrava dos braços de Danilo. Este acenou com a cabeça para cumprimentá-la.
            - Do que vocês estão falando? – perguntou Mariana alegremente.
            - Nada de importante.
            - Estava me perguntando para quem seriam os coraçõezinhos que Manuela desenha no caderno. – disse Danilo. Cotovelei-o com o meu braço esquerdo com força, mas ele não reagiu.
            - Coraçõezinhos? Do que eu não estou sabendo heim Manu?
            - Oh! Você não sabia disso? – Danilo fingiu uma inocência tão ridícula que eu fuzilei-o com os olhos.
            - Bom, – comecei, virando-me para Mariana – na verdade… – tentei me salvar.
            - Não acredito que você está apaixonada e não me contou! Quem é? É novo? Porque você não estava apaixonada desde o final das ferias… – Danilo sorriu para mim como se estivesse dizendo: Essa paixão tem alguma coisa haver comigo? Cerrei os olhos. Mariana continuou tagarelando enquanto nós estávamos numa guerra silenciosa. – Espera, você é novo, não?
            - Sou sim, por quê? – ele virou-se para ela como se estivesse prestando atenção o tempo todo no que esta dizia.
            - Nunca te vi antes.
            De repente um bolo de alunos apareceu no meio do pátio. Algumas pessoas gritavam “briga, briga” e outras apenas olhavam horrorizadas. Senti uma coisa estranha, me levantei e fui ver o que estava acontecendo. Pude sentir Danilo me seguindo, estava tão perto que me incomodava.
            Consegui chegar ao meio da confusão e vi Tom praticamente se jogando em cima de Fernando, ex-namorado de Marina. Sofia estava no meio deles pedindo para pararem, ela ia acabar se machucando. Uma hora ou outra eles iam acabar acertando-a.
            - Danilo, me ajuda! – peguei sua mão e o arrastei para a briga. – Sofia, vamos sair daqui! – gritei acima do barulho.
            - O Tom pode se machucar!
            - Se nós não sairmos daqui, quem vai se machucar vai ser você.
            - Não quero saber!
            - Danilo vai ajudar a apartar a briga! Vamos! – saí com ela de lá. Depois de um tempo, a briga já tinha acabado e Fernando praticamente correu para fugir de Tom. Sofia correu até os garotos e eu a segui.
            - Vocês estão bem? – perguntou Sofia.
            - Aquele merda nunca mais vai aparecer na minha frente.
            - Calma, amor! Você se machucou? – ela começou a examiná-lo meticulosamente para ver se havia machucados.
            - Não. Vamos sair daqui. – disse Tom, ainda irritado, envolvendo seu ombro com o braço.
            Então eles foram embora. Quando estavam subindo as escadas, Sofia se virou e disse, usando a linguagem labial: “Te conto o que aconteceu depois”. Virei-me para Danilo.
            - Obrigada por apartar a briga. Mesmo.  
            - O “prazer” foi todo meu. – o sinal tocou.
            - Temos que subir.
            - Vamos – ele ofereceu a mão para mim e, sem pensar, segurei-a. Eu ia me arrepender desse simples ato, mais um motivo para ele implicar comigo.
            Quando chegamos à sala, me toquei que ainda segurava a mão de Danilo e rapidamente a soltei. Ele riu suavemente.
            Foi tudo muito rápido, Marina entrou na sala andando rapidamente e foi até Fernando.
            - Tenho que te dar uma coisa.
            - O que, um beijo? Quer voltar? Estou bem aqui… – ela deu um tapa em seu rosto, tão forte que ele cambaleou – Ai!
            - Quem você acha que é para dar em cima da minha melhor amiga na frente de todo mundo?! Seu egoísta, safado, idiota!
            - Calma, calma. – ela o ignorou.
            - Olha aqui, se você se meter com qualquer uma de minhas amigas de novo eu te mato! Está ouvindo?! Te mato!
            Ela deu as costas para ele e foi se sentar na carteira mais distante possível. Fui atrás dela.
            - Aonde você vai? – perguntou Danilo.
            - Vou falar com a minha amiga.
            - Briga de marido e mulher não se mete a colher.
            - Primeiro, eles não são casados. Segundo, eu vou ajudar a minha amiga. Eu conheço ela e ela está precisando. – ele deu um meio sorriso.
            - Tudo bem – me virei para ir falar com Marina – Hei – me virei de novo – Ótimo argumento. – sorri e continuei andando.
            - Oi. – eu disse me sentando perto de minha amiga.
            - Oi – ela levantou o rosto, seus olhos estavam inchados.
            - Você estava chorando?
            - Aquele imbecil não podia esperar um pouco para me fazer de boba na frente de todo o colégio não?
            - Provavelmente não, ele não é o estilo de pessoa que pensa nos outros. Mas pensa pelo lado positivo, ele quebrou a cara… literalmente. – ela riu – Então… já tem uma idéia de quem é o garoto de quem eu lhe falei? – mudei de assunto para animá-la.
            - Tenho. Por acaso o nome dele começa com “F”?
            - Talvez. Olha, ele vai à “playteen” hoje à noite, não quer ir comigo e com as meninas e nós, “coincidentemente”, nos encontramos com ele lá? – na verdade, eu não tinha falado nada com o Felipe, mas ele com certeza toparia.
            - Boa!
            - Às oito e meia?
            - Tá bom.
            - Você combina com as meninas que eu combino com ele.
            - Por que você não pode combinar com as meninas também?
            - Porque eu não vou só me encarregar dele, mas também com outros garotos.
            - São gatos?
            - Você vai ver.
            Saí de lá e fui até o meu lugar. Discretamente, peguei meu celular e mandei uma mensagem para Felipe.
            Hey, o que você acha da gente ir na playteen hoje a noite? Nem adianta dizer que não vai rolar, porque a Marina vai estar lá ( só pq eu disse q vc ia... ). A gente se encontra na entrada, às 8:45. bjs
            Depois de alguns minutos, ele respondeu.
            To dentro. Vejo vocês lá. Bjs
                Ótimo. Agora eu precisava avisar aos meus primos. Eu tinha prometido para eles que ia fazer com que eles conhecessem minhas amigas. Eu trataria de chamar outras meninas solteiras, pois seria uma decepção para eles estarem num lugar daqueles e não pegarem ninguém. Eu ri ao pensar na reação deles.
            - Está de muito bom humor hoje, – observou Danilo – o que aconteceu?
            - Nada, nada… Ah, Danilo, o que você acha de ir com a gente na “Playteen” hoje?
            - A gente quem, exatamente?                                                           
            - Bom, eu, Marina, Sofia, Felipe, Tom, Amanda, Rodrigo, Mariana, Bia, Isabella, meus primos…
            - Tá bom, já entendi. Vai muita gente. – dei uma risadinha.
            - Pois é. Mas, e então, você vai ou não?
            - Você vai, certo? – perguntou ele, uma sobrancelha levantando.
            - Não, vou ficar em casa lendo um livro de auto-ajuda. Claro que vou, né? – ele riu de meu sarcasmo.
            - Eu vou. – eu sorri e ele sorriu de volta.
            O resto do dia foi normal. Danilo implicava comigo, minhas amigas me contavam com detalhes o dia com os seus namorados e Sofia me contou o que aconteceu na entrada. Para variar, Fernando deu em cima dela e o Tom chegou bem na hora. Como ele é um pouco muito possessivo, partiu para cima de Fernando, que por acaso acabou se machucando feio.
            Eu tinha combinado de voltar para casa com Marina, já que morávamos muito perto. Quando estávamos virando a esquina, vimos Felipe e Fernando discutindo. Eu suspirei e Marina foi se meter no meio deles.          
            - Já chega de briga por hoje. Eu não agüento mais.                          
            - Mas… – começou Felipe.
            - Mas nada! Saiam já daqui. Agora! – eu estava assustada com a reação de Marina, ela nunca tinha agido assim antes. Como ela sabia que Felipe estava brigando com Fernando por causa dela? Bem, se tratando de Felipe, não é difícil deduzir isso.
            Fernando, como sempre, sendo um covarde, foi embora, nos deixando sozinhas com Felipe. Ele me olhou. Fiz que sim com a cabeça para incentivá-lo.
            - Por que você continua aqui, heim? Não entendeu o recado? – Marina empurrou-o na direção da casa dele.
            - Marina, eu preciso te falar uma coisa muito importante.
            - E o que é?
            - Eu estava brigando com o Fernando porque eu não agüentei vê-lo fazer isso com você… eu sempre soube que ele não te amava, mas não falei nada com medo de você acabar com a nossa amizade. Depois de um tempo eu percebi que essa preocupação toda que eu tinha com você não era apenas preocupação e sim amor. Eu te amo Marina e eu quero te fazer feliz… – ele não conseguiu terminar, antes disso, Marina pulou em cima dele e o beijou apaixonadamente.
            Senti um sorriso de vitória se formando em meus lábios. Só em pensar que eu fui a culpada por esse casalzinho de pombinhos eu já ficava feliz. Retirei-me de lá completamente feliz, mas sentindo que se eu continuasse encarando-os, eles iam me expulsar de lá.
            Cheguei a casa e liguei para os meus primos. Pedro atendeu ao terceiro toque.      - Fala priminha! Novidades?
            - Tenho uma boa para você e para o Biel – Biel era o apelido de Gabriel, o mais novo dos meus primos adolescentes.
            - Manda.
            - Que tal se nós três, eu, você e Biel fossemos à “playteen”?
            - Po, valeu priminha! Mesmo!
            - Eu tomei a liberdade de chamar umas amigas para ir também… – comecei, sabendo que ele rapidamente aceitaria.
            - Beleza. A gente passa aí quando?
            - As oito tá beleza, vou encontrar com elas lá as oito e meia, mas até a gente chegar na boate são quinze minutos e até achar uma vaga são mais cinco. O resto a gente fica se acostumando com o lugar.
            - Ótimo. Te vejo daqui a pouco. Beijo.
            - Beijo.                                                                                              
            Meu primo mais velho, Pedro, tinha 18 anos e já podia dirigir, inclusive beber, o que de certa forma me deixava preocupada. Ele era grande, mas só de tamanho, por dentro ainda era aquele garoto maluquinho e pegador que eu chamava de primo.
            O dia foi o que você poderia chamar de chato. Fui ao curso de francês, que eu estava quase terminando. Assim que voltei de lá, vi que alguém tinha me mandado uma mensagem.
            Caramba! Vc é o meu cupido, sabia? O Felipe me pediu em namoro hj praticamente por sua causa. Como eu pude ser tão estúpida? Aquele homão do meu lado e eu só pensando no idiota gostosão. Enfim, vc não precisa mais me esperar no lugar marcado, pq eu vou com ele, tá? As 8:45 lá na entrada, né?
            O mais rápido que pude, respondi a mensagem.
           
            Noossaa! Obrigada, eu não sabia que vc ia ter essa reação. Estúpida não, só cega... kkkkk . Vc ainda chama aquilo de gostosão?
É sim. Te vejo lá. Bjooos.
           
            Eu estava completamente ansiosa para hoje à noite. Nunca se sabe o que pode acontecer.

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