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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Capítulo 1 (Manuela): Alados

Segunda-feira, primeiro dia de aula, e eu já estava atrasada. Era inacreditável!
            Boa, Manu! Falei para mim mesma. Ótima maneira de começar o ano.
            O barulho do sinal me fez pular e correr escada acima. Para chegar até a minha sala de aula, eu tinha que subir cinco andares. Então precisava correr.
            Entrei na sala já esperando ver o professor dando aula, mas ele não estava presente. Ao invés disso, os alunos ainda estavam em pé, conversando.
            Dei uma olhada pelo lugar, procurando minhas amigas. Foi quando me deparei com ele. O cabelo negro e desarrumado acompanhado com um olhar de desdém e os músculos – certamente – bastante desenvolvidos eram ligeiramente familiares, como se eu já o tivesse visto antes, mas, por mais que eu tentasse, não conseguia me lembrar de onde. Ele usava o uniforme do colégio, que caia muito bem nele – o que era um milagre –, transformando a blusa pólo social sem graça em algo incrivelmente…
            Pelo que pareceu, meu olhar atraiu sua atenção um pouco mais rápido do que eu esperava, fazendo com que nossos olhos se encontrassem e eu ficasse com o rosto completamente vermelho.
            Como se não bastasse o rosto perfeito, ele sorriu de forma provocante e até um pouco mal-comportada – só tinha um probleminha, era também um pouco arrogante –, os olhos capturando os meus como se quisessem passar-me uma mensagem. Naquele momento, uma descarga de adrenalina tomou conta de mim e a sensação de conhecê-lo tornou-se ainda mais forte. Eu teria ido falar com ele, perguntar de onde veio para ver se conhecia, mas antes que pudesse fazer isso, senti que alguém pulava em minhas costas. Clara. Como sempre, ela estava com um grande sorriso no rosto.
Clara era uma menina extrovertida, com o cabelo cor de mel encaracolado até a metade das costas. Os olhos castanhos brilhavam, o que acontecia sempre que ela tinha algo para dizer. Ela começou a pular na minha frente, parecia uma criança.
            - Oi! Como foram as suas férias?
            - Divertidas. – eu disse, resistindo à tentação de olhar para trás – E as suas?
            - Perfeitas! Fui para a Disney e, adivinha, conheci um gato americano que você morreria de inveja! Era loiro, alto, olhos cinza, bom humor, bom papo, muito perfeito e, claro, tinha um tanquinho…
            - Ficou com ele? – perguntei, ansiosa. Minhas amigas sempre conheciam meninos gatos quando viajavam. Pena que isso nem sempre acontecia comigo.
            - Hmm… não. – ela fez beicinho.
            - Por quê?! – perguntei, indignada.
            - Porque o meu primo chegou bem na hora, ele impediu o nosso beijo e botou o David para correr.
            - Não acredito.
            - Nem eu. Fiquei muito irritada com ele, você nem imagina.
            - Hmm… você sabe quem é o garoto novo?
            - Ah, aquele? O nome dele é Danilo. Ele me parece meio tímido.
            - Tímido?! Te garanto que ele não é tímido.
            O olhar que ele me direcionou com certeza não era um olhar tímido.
            - Hmmm… suspeito. Está afim dele Manu? – disse clara, com um sorriso cúmplice.
            - Na-não, eu…
            - Você está afim dele! Mas já? Ele é lindo, mas já? Pega ele!
            Sorri. Ela era sempre tão franca e extrovertida que acabava falando demais. Imagine só, eu não era de me apaixonar tão facilmente por um garoto que eu mal conhecia e que certamente era metido demais para mim.
            Clara me puxou até a mesa de Amanda, minha melhor amiga. Ela era morena, cabelos castanhos e olhos cor de chocolate. Dona de um sorriso que poderia ser reconhecido à quilômetros de distância, ela que estava dividindo sua carteira com o seu namorado, Rodrigo. Ele era alto, moreno, cabelo preto e tinha olhos muito escuros. Cheguei até ela e cutuquei seu braço.
            - Hey! Lembra de mim ou esqueceu-se da sua melhor amiga?
            - Claro que não me esqueci de você. Nunca!
            Nos abraçamos e eu cumprimentei o namorado dela com um aceno de cabeça.  Ele sempre foi muito gentil comigo e com todas as minhas amigas. Um perfeito cavalheiro, diferentemente de certas pessoas.
            Ficamos conversando sobre as nossas férias e Clara desatou a falar do tal do David que ela jurava ser o garoto mais lindo do mundo… até que viu outro garoto novo. Loiro meio acinzentado, olhos de azuis a verdes, musculoso e bonito em total. Ele até que era bonitinho, mas não fazia o meu tipo, alguma coisa nele não me atraia. Logo descobri o que era.
            Ele veio conversar com a gente, parecia legal, mas realmente era o tipo da Clara. Tinha um bom papo, engraçado e um pouco sarcástico – exatamente o que me atrai num garoto -, mas não tínhamos muita coisa em comum e isso acabou com a primeira impressão de um possível mais que amigo.
             A professora entrou na sala e todos foram para seus lugares. Ela era loira – mas não natural, o que ficava bem evidente por causa da tinta de baixa qualidade –, magra e usava uma blusa florida colada no corpo com calça jeans.
 Apesar de não gostar nada da idéia, sentei-me a frente de Amanda e atrás de Danilo. Estar tão perto dele fez-me sentir todo o corpo formigando.
            - Bom dia classe. Meu nome é Anna Clara, mas podem me chamar de Anna. Sou professora de literatura. Bom, eu não sei o nome de todos vocês ainda, mas logo vou saber. Agora eu gostaria que todos, por favor, levantem-se e digam seu nome, de onde vem se são novos e seus sonhos.
            Que ótimo. Eu realmente odiava falar em público, era a pior coisa do mundo. Bom, pelo menos eu estava na metade da sala, ou seja, não seria nem a primeira e nem a última da classe a falar.
            - Comece por você – disse Anna para Joana, uma das meninas mais extrovertidas da sala, depois de Clara.
            A menina desatou a falar e eu entrei no meu mundinho particular que eu criava quando não tinha nada para fazer. Fiquei pensando nas minhas férias – como tinham sido boas, apesar de ter a minha mãe me impondo muitas obrigações da casa, o que não era nada legal – enquanto fazia desenhos sem sentido no caderno.
            Voltei à realidade quando Danilo se levantou e começou a falar. A próxima era eu e devia estar atenta, ou era disso que eu tentava me convencer.
            - Meu nome é Danilo Campos, sou aluno novo e estudava em… lugar nenhum. Meu sonho é… bom, eu não tenho.
            - Noooossaaaa. Genial. – ouvi Clara falar eu não consegui segurar o riso. A sala toda me acompanhou.
            - Se você acha isso genial, espere até eu me esforçar para me fazer de gênio. – disse ele, piscando para ela. Clara cerrou os olhos para Danilo, que abriu um sorriso que seria capaz de fazer qualquer garota se ajoelhar aos seus pés, mas Clara não era esse tipo de garota.
            - Duvido que consiga alguma coisa com esse seu papinho de sabe tudo. – o sorriso de Danilo se abriu.
            - Calma, calma. Já chega. Você disse que nunca estudou antes, hmm… Danilo?
            - Isso.
            - Mas como? Isso é impossível. Existem leis que obrigam as pessoas a estudar.
            - Jura? – ele fingiu uma surpresa inocente – Ninguém nunca me disse isso. – a classe inteira riu.
            A professora ficou realmente confusa. A final de contas, se os pais dele podiam pagar uma escola particular, então ele necessariamente deveria estar estudando.
            - Estranho. Hmm…Obrigada por se abrir conosco. – Danilo pareceu confuso em relação a essa última parte.
            Legal. Minha vez. Levantei-me.
            - Meu nome é Manuela, sou desse colégio desde o ano passado e meu sonho é ser veterinária. – ouvi o menino da minha frente rir. Senti a maior vontade de perguntar qual era a graça, mas me contive. Chega de briga por hoje.
            - Obrigada. Próxima.
            Sentei-me e me desliguei da realidade de novo. O resto das aulas foi exatamente igual à primeira, mas sem apresentações. Durante a terceira aula, um papelzinho voou por cima do ombro de Danilo e caiu na minha mesa. Tinha o meu nome escrito.
                        Desligada durante a aula? Nada bom para o início do ano, não acha?
                        Ah, sobre hoje de manhã… desculpa, não quis te deixar sem graça daquele jeito e foi mal por rir do seu sonho, mas eu acho que você se daria melhor como modelo ou atriz do que como médica de animais, que não podem admirar seu valor...
            Atenciosamente,
                                   D.
            Meus olhos se estreitaram. Que babaca! Ele estava zoando com a minha cara, eu tinha certeza! Enchi-me de raiva quando li a parte dos animais. Eles saberiam admirar meu valor melhor do que ele. Idiota!
            Virei o papel e escrevi.
                            Obrigada pelo conselho, assim eu terei certeza do que NÃO fazer!Ah, e em relação aos animais só tenho uma coisa a dizer: admirariam meu valor mais do q você!
            Depois de um tempo recebi outro bilhete.
                        Não tenho tanta certeza disso.
                Idiota!
O sinal tocou e as pessoas se levantaram para conversar. Rasguei o papel e amassei os pedaços com toda raiva que tinha. Ouvi um riso vindo da frente. Dessa vez não me segurei.
- Qual é a graça?!
            Ele se virou e sorriu do mesmo modo que havia sorrido para Clara. Pelo jeito, adorava implicar com as meninas. Ele devia achar que isso nos seduzia.
            - Você é a graça.
            - Pois eu não acho nada de engraçado em mim.
            - Mas eu acho.
            - Hmpf. – me levantei e fui até a carteira de Sofia, duas cadeiras de distância da dele. Mesmo assim, não era longe o bastante. – Oi, por que se atrasou para a aula hoje?
            Sofia era uma menina que poderia ser considerada um anjinho: carinhosa, fofa, sempre presente e sensível. Tinha os olhos cor de mel e o cabelo meio castanho, meio cor de mel. Ela tinha entrado na sala no segundo tempo porque se atrasou. Na verdade, eu sabia o motivo. Ela raramente se atrasa, então, ela deve ter ficado presa no trânsito ou então acordou tarde. Mas eu queria me desligar do menino que me irritara momentos atrás.
            - Meu despertador não tocou e acordei com a minha irmã me chamando. – a irmã de Sofia era universitária (estudava pedagogia, coitada) e entrava mais tarde na faculdade.
            - Ah.
            - Está… tudo bem com você? – perguntou ela, me olhando com preocupação.
            - Está sim… é o garoto que eu conheci que não me deixa em paz.
            - Hmm… sei.
            - Hey, eu não estou afim dele.
            - Calma, eu não disse nada, você que está ouvindo coisas...
            Comecei a rir. Mesmo não gostando muito de sua indireta, era incapaz de ficar brava com Sofia, sempre uma ótima amiga – eu tinha uma séria desconfiança de que era por isso que nós tínhamos nos tornado amigas.
            Nos abraçamos e cumprimentei seu namorado, Tom. Eles começaram a namorar nas férias. Ela me ligou às dez horas da noite para dizer que ele fez o pedido. Naquele dia, Amanda estava dormindo na minha casa e nós duas quase acordamos os meus pais de tanto gritar – olha que eles têm sono pesado, heim?
Tom me pareceu a fim de ficar sozinho com a namorada, como se já não passassem tanto tempo juntos...
            Circulei pela sala para conversar com outras amigas minhas que não tinha dado tempo de conversar. Vi Marina sentada em sua cadeira com uma cara triste, que não combinava em nada com o cabelo loiro escuro e o rostinho de criança. Fui até ela e sentei-me a seu lado, dividindo a carteira.
            - Oi, o que houve?
            - O Fernando terminou comigo.
            - Jura?! – eu sabia que ele não era gente boa, sempre dava em cima de umas garotas da escola, mas me fingi de inocente. – Por que vocês terminaram?
            - Ele falou que queria uma garota mais “aberta” – as aspas estavam devidamente expressadas – e ainda disse que nunca gostou de mim de verdade. – um brilho apareceu em seus olhos, pareciam lágrimas.
            - Ah, desencana. Ele nunca foi bom o bastante para você. E, para te falar a verdade, conheço alguém que te merece, e muito.
            - Sério? – ela já estava se animando – Quem?
            - Se vira filha, só posso te dizer que ele não é da nossa turma, mas eu já reparei o jeito como ele te olha no recreio, como, literalmente, ele te segue e depois finge que vocês se encontraram apenas por coincidência...
            - Manuela, me fala logo quem é esse fofo!
            - Você que tem que descobrir. Aliás, nem que eu quisesse poderia te contar. A professora chegou.
            - Você é muito sem graça sabia?!
            - Também te amo fofa!
            Fui para o meu lugar e refleti sobre o que acabei de falar para minha amiga. Não era mentira. Qualquer um conseguia enxergar o amor que o Felipe sentia por ela, menos a própria Marina.
            Eu achava essa situação muito fofa, típica de filme de romance. Os olhos dele brilhavam só em ouvir o seu nome. Na festa de quinze anos de Marina, ele foi atrás de mim e me assustou, assumiu o seu amor por ela e me perguntou se eu poderia ajudá-lo. Fiquei tão surpresa que a ficha demorou a cair, quando caiu, eu disse que era só ele ser ele mesmo que ela ia entrar na dele. Ela já tinha comentado comigo sobre a “fofura” do Felipe e eu quase pulei de alegria ao ver seus olhinhos brilharem. Que fofo! Eles formam um casal muito lindo e, como eu já pesquisei, o signo deles combinam direitinho..
            A professora se postou no meio da sala e disse tudo que os outros disseram: nome, a matéria e as regras da classe… foi então que ela falou o que todos nós não queríamos ouvir.
            - Agora eu gostaria de falar sobre o trabalho em grupo que vocês vão fazer na primeira semana de prova. Estou alertando a vocês com um mês de antecedência para se prepararem…
            - Professora, – um garoto levantou a mão, ele era conhecido como o palhaço da turma e sempre discutia com os professores. – você não pode fazer isso. Nós temos o direito de não nos preocuparmos com esse tipo de trabalho até as semanas de provas.
            - Pois o senhor que se acostume com esse método de trabalhos, vai ser assim o ano todo.
            - E se a gente fizer uma greve?! – ele enfatizou bem essa palavra.
            - Se vocês fizerem greve, tiram zero.
            - Isso é uma grande sacanagem!
            - Meu salário também é uma sacanagem.
            - Então você desconta na gente?
            - Chega, se você continuar atrapalhando a aula, eu te boto pra fora!
            - Quem disse que eu estava dentro? – a classe toda riu ao ver o segundo sentido.
            Ela o ignorou e continuou a aula. Explicou que nós deveríamos fazer o trabalho sobre os nomes mais importantes da história desde o império romano até Napoleão Bonaparte. Cada grupo deveria escolher um grande nome e fazer sua bibliografia. O grupo era de quatro pessoas. Uma pessoa falaria de seu nascimento e família, outro falaria das maiores conquistas, outro das derrotas e outro da morte.
            - Os grupos serão sorteados – merda – Eu escolherei os “capitães”, que são aqueles que coordenarão o grupo. Depois, eu sortearei o resto dos grupos.
            Ela começou a sortear os números dos capitães. De repente eu tomei um susto. Ela falou o meu número e eu nem tava preparada para isso. Nunca fui boa em coordenar grupos. Na maioria das vezes, outras pessoas começavam o assunto e então eu continuava. Após sortear os coordenadores, a professora então passou para o resto do grupo.
            - No grupo da Manuela estão os seguintes números: 21, 33 e 15.
            Até ela dizer o último número eu estava feliz. As pessoas do meu grupo eram Sofia, João e… Danilo. Não era possível, essa criatura me segue aonde quer que eu vá! Mais um bilhetinho voou pelos ombros de Danilo.
                        Estamos no mesmo grupo, parece que você me persegue.

                        Olha só quem fala! Você que me persegue desde que nos conhecemos.
           
                  Não posso fazer nada se me senti atraído por você.
                Fiquei vermelha ao ler o que ele escreveu. Mesmo sabendo que ele o fez só para que eu tivesse aquela reação, eu não pude evitar. Foi automático.
                        Se é assim que você mostra que está atraído por alguém, então não quero ver quando você resolver irritar uma pessoa que não tem nada a ver com a sua vida.
.
                E quem disse que você não tem nada a ver com a minha vida?
               
        É óbvio que eu não tenho. Nem te conhecia há pouco tempo atrás, antes de descobrir que você é um chato, implicante e grosso.

Dizem que os sentimentos se confundem.

Senta lá, Cláudia!
Pude ouvir o seu riso ao ler o bilhete. Cruzei os braços com força para não dar um pedala Robinho nele. O sinal tocou. Como o tempo passou tão rápido? Olhei para o meu relógio, era mesmo 10 horas. Caramba!
Sofia apareceu na minha frente.
- Tenho uma má noticia.
- Pode falar, mais uma não vai fazer diferença.
Ela me olhou como se quisesse dizer “meu Deus! Você ta muito deprê, sabia?”, mas continuou.
- Bom, as provas começam daqui a três semanas e é antes da prova de matemática e depois da prova de português.
- Droga! Então a gente vai ter que se reunir antes das provas…
- Olha, pode ser na minha casa.
- Não, não. A gente se reúne na minha casa daqui a uma semana, tá bom?
- Tá. Só falta falar com os garotos. Eu posso falar com o…
- Eu falo com o João. Fala com a coisa, por favor.
- Era o que eu ia falar, mas você não deixou.
- Foi mal. Eu preciso de ar fresco.
- Concordo. Vamos?
- Aham. Eu queria pedir desculpas pelo meu mau humor. Acho que estou de TPM – falei baixinho para ninguém ouvir.
- Entendo. – me parecia que ela não achava isso, mas não queria me irritar. Amanda nos encontrou na porta. Estava sem o namorado.
- Hey, adivinha no grupo de quem eu estou? – como não falamos nada, ela mesma respondeu a própria pergunta. – Do Drigo e do Carlos. – o Carlos era o primo de Amanda e, de certa forma, meu primo também, só que de consideração. A propósito, Drigo era o apelido de Rodrigo, o namorado fofíssimo da Amanda. – Não é o máximo?
- Que bom para você, amiga! Nós estamos no mesmo grupo, mais o João e o Danilo. – disse Sofia.
- Hmm. O garoto novo. Aquele que teve problemas com a Clara.
- Não só com ela. – disse Sofia. Olhei-a de cara amarrada.
- Manu, tem alguma coisa que você não me contou?
- Te falo depois.
O resto do dia foi o que podemos dizer normal. Conversamos sobre as coisas de sempre no recreio – garotos entre outros –, durante a aula, Danilo não me irritou mais. Só um sorriso de vez em quando, ao me ver falar com minhas amigas sobre o mais novo galã, aconselhando-as sobre o namoro e, principalmente, dando dicas a Marina sobre quem era o seu admirador. Ela quase me partiu em duas porque eu nunca falava o nome do menino, mas eu tinha uma desconfiança que no fundo ela soubesse quem era.
Voltei para casa acompanhada por João e Leonardo, meus melhores amigos, eles eram meio maluquinhos e ficavam se sacaneando o tempo todo enquanto eu ria deles.
Cheguei à casa meio dia e meia, almocei e descansei um pouco. Fiz os deveres, e fui a minha aula de francês. Tomei um banho, naveguei um pouco na internet e apaguei na cama depois de ver o terceiro episodio da terceira temporada de Glee.


Eu estava em uma praia. O sol não estava alto, mas o céu estava lindo. Parecia coisa divina, quando as nuvens ficam na frente do sol, seus raios atravessavam algumas áreas, as nuvens ficavam brilhantes nas pontas e brancas no meio. Lembrei-me de quando o professor de religião disse que isso representava o espírito santo. Olhei para o mar. Não estava agitado, nem tão calmo. Era de uma mistura de verde e azul, parecia o paraíso.
Um barulho me chamou a atenção. Ele estava sem camisa, mostrando seu corpo desenvolvido, a bermuda pendia baixo na cintura e o cabelo negro estava completamente encharcado. Danilo sorriu para mim. Nesse momento eu senti um friozinho na barriga. Olhei para baixo e percebi que estava de biquíni. Como? Como eu não tinha percebido ainda? Olhei para cima, ele já estava muito perto. Seu sorriso aumentou ao ver meu rosto – que devia estar confuso –, pousou sua mão em meu rosto e se aproximou. Para minha surpresa, eu não desviei o rosto. Seus lábios tocaram os meus, eu realmente estava no paraíso...
Acordei no meio da noite, a respiração entrecortada. Coloquei a mão no peito e olhei em volta, tentando voltar à realidade. O sonho tinha sido bom, mas também tinha sido ruim. Levantei-me e fui tomar um copo d’água. Quando voltei para a cama, não conseguia parar de pensar em Danilo – não o Danilo real, o Danilo de meu sonho –, ele parecia tão feliz e apaixonado em me ver que eu fiquei vermelha só de lembrar.
Só consegui dormir depois de alguns minutos.


No dia seguinte, cheguei à escola com muito sono, mal conseguia ficar em pé direito, quem dirá sair andando por ai. O pesadelo da noite anterior não me deixou dormir direito.
- Oi! – Isabella apareceu do nada na minha frente, fazendo-me pular de susto.
- Hey! Como você está?
- Bem… na verdade eu estou muito animada para o meu primeiro dia de aula, já que eu faltei ontem. Pena nós não estarmos na mesma turma, não é? Como você sabe, eu estava viajando para Paris e acabei me apaixonando pela cidade, não sei como, mas eu consegui convencer os meus pais de ficar por lá mais um dia.
- Fala aí, como é Paris?
- É linda, os arcos do triunfo são perfeitos quando vistos pessoalmente. Os parques são muito românticos, até tive que sair de perto dos meus pais para não vomitar. – rimos juntas. Eu estava com saudade de Isabella e de seu jeito de ser, o que muitos chamam de maluco. – Você deveria ir lá, ia adorar. Principalmente sendo romântica como é.
- Talvez eu gostasse, mas você sabe que eu nunca fui muito a fim de sair do país para ver essas coisas. O nosso país é tão grande que eu aposto que se passasse a vida toda viajando, não conseguiria ver tudo, então, por que sair dele?
- Não sei, talvez porque os outros países parecem ser melhores do que o nosso.
- Talvez.
Os inspetores apitaram e nós subimos para nossa sala. Isabella não tinha se acostumado em subir todos os cinco lances de escada. Ela reclamava a cada andar que subíamos e eu concordava com ela, ninguém merece subir cinco lances de escada às seis e cinqüenta da manhã todos os dias.
Nos separamos no corredor e encontrei minhas amigas na sala, cada uma com seu respectivo namorado. Das solteiras, Marina estava conversando com Sofia e Tom e Clara estava conversando com Gabrielle, sentada em sua mesa.
Fui até meu lugar e separei meu material para a primeira aula. De repente eu me senti de um jeito estranho, como se eu estivesse completa, tivesse achado a metade de mim que eu não sabia que estava procurando. Automaticamente, olhei para cima.
- Feliz em me ver? – Danilo deu um sorriso torto que fez meu coração perder o compasso.
- O que te faz acreditar nisso?
- O fato de ter sorrido ao me ver.
- Eu não sorri. – ele levantou as sobrancelhas – Claro que não. – pelo menos era o que eu achava.
- Se é isso que você acha… – ele disse, dando de ombros.
Passei por ele, esbarrando em seu ombro, e fui falar com as pessoas que realmente me interessavam. No caminho, pensava na sensação que tive com a aproximação de Danilo. Isso me deixava muito confusa e até um pouco decepcionada. O que tinha de errado comigo?
Esbarrei em alguém.
- Me desculpe… Marina? – Ela parecia preocupada, os olhos encontrando os meus. O que será que tinha acontecido agora?
- Você está bem? – perguntou ela, lentamente.
O que? Então ela estava preocupada comigo? Por quê? Será que eu estava agindo tão estranhamente assim?
- Oi? Ah, estou sim. Por que a pergunta?
- Porque você não parece muito bem…
- Problemas comuns na vida de uma adolescente.
- Claro.
- E aí? Já descobriu quem é? – perguntei, doida para mudar de assunto.
- Não, eu fui perguntar para o Felipe – que era o menino que gostava dela – e ele ficou muito bravo comigo. Me falou que eu não podia ficar procurando por um menino que não existe. Poxa, acabou com as minhas esperanças.
- Ele não devia estar bem. Vai ver ele brigou com um amigo e estava de cabeça cheia.
- No recreio ele estava normal comigo.
- Hmm… estranho.
Na verdade, eu sabia o porquê da reação dele. Os meninos parecem ser de espécies diferentes da nossa. Quando estão enciumados, eles partem para cima da gente com grosseria. O que eles queriam fazer com os seus “rivais” e não com a gente.
- Ele não fala mais comigo. – disse Marina, olhando para baixo com o rosto triste.
- Que palhaçada! Eu vou falar com ele. – eu disse para ele que deveria ser ele mesmo, ou seja, fofo como sempre e não dar uma de idiota grosso. Já basta um na minha vida.
- Não precisa. Já, já ele pára com isso.
- Mesmo assim. Ele não é assim, tem alguma coisa de errado acontecendo. – muito errado.
- Está bom então.
         - Pode deixar que eu dou um jeito nele. – seus olhos se arregalaram, tinha um pouco de ciúme neles. Eu ri. – Não desse jeito. – ela deu uma risadinha.
            - Obrigada! – me abraçou.
            A professora de inglês entrou na sala e eu tive que ir para o meu lugar. Minha cara, obviamente, não estava nada boa: minha amiga estava brigada com o garoto que era seu príncipe encantado, ele estava raivoso de ciúme dele mesmo e eu estava com raiva de mim mesma e do menino na minha frente. Sentei na cadeira e suspirei pesadamente.
            - Cara feia dá ruga, sabia? – disse Danilo enquanto se sentava.
            - Não me enche que hoje eu não estou para isso.
            - Quanta agressividade! – ele fez uma cara de surpresa bem fingida.
            - Você não tem mais nada para fazer não?
            - A minha vida se resume a você. – disse ele.
            Automaticamente, seu jeito de falar me levou ao sonho da noite anterior e eu, infelizmente, fiquei vermelha. Esse simples acontecimento fez com que um sorriso de vitoria aparecesse em seus lábios.
            - Não… não fale besteira. – gaguejei.
            - Você não parece achar que é besteira. – fugi de seu olhar.
            - Claro que acho.
            - Então por que ficou vermelha?
            - Não era por sua causa que eu fiquei vermelha.
            - Claro que não, foi por causa do que eu falei.
            - Meu Deus, dá pra me esquecer?!
            - Já te disse que isso é uma coisa impossível.
            - Então pelo menos finge.
            - Também é uma coisa impossível. – suspirei com raiva. Ele estava me olhando de um jeito estranho. Me lembrava o jeito que me olhava no sonho. Só naquele momento eu percebi que seus olhos eram verde-esmeralda. Lindos, os mais bonitos que já vi.
            - O que está olhando? – eu disse.
            - Admirando a sua beleza. – um sorriso provocante parecido com o do primeiro dia de aula surgiu em seu rosto.
            - Claro. – fui sarcástica. O sorriso aumentou.
            - Dá para o casalzinho parar de namorar, por favor – a professora nos chamou a atenção.
            - Droga – falei tão baixo que eu pensei que Danilo não seria capaz de ouvir, mas, como sempre, ele foi imprevisível e ouviu. Seu sorriso se tornou divertido e depois ele se virou para frente.
            A professora continuou a aula que já estava quase no final. Eu já tinha me formado no curso, então a matéria que ela estava dando era fácil. Às vezes, durante a aula, Danilo agia de modo estranho, parecia que ele estava doido para se virar e falar alguma coisa, mas nunca o fazia. Eu estava prestes a explodir de ansiedade para que a aula acabasse.

sábado, 9 de julho de 2011

Prólogo (Danilo): Alados

Estava no quarto com Manuela quando minha irmã entrou. Parecia nervosa. Pelo jeito, o que temíamos acabou acontecendo.
            - Posso falar com você? – perguntou ela. A respiração estava agitada, mas eu era o único presente que podia perceber o toque de pânico em sua voz.
            - Pode sim. – tentei manter a voz calma. Para Manu eu disse: – Já volto. – beijei a testa de Manu. Ela parecia confusa, mas eu não podia explicar nada a ela.
            Saímos do quarto e fomos para o de Juliana. Eu não sabia o porquê, mas ela adorava usar aquele quarto para conversar coisas sérias. Como ela era o anjo superior, ninguém se atrevia a escutar pela porta.
            - Aconteceu? – perguntei. Seus olhos meio verdes meio azuis agora estavam arregalados.
            - Sim. Acabei de voltar de uma reunião com os coodernadores de guerras.
P.S: Coodernadores de guerras eram anjos superiores que organizavam as guerras e batalhas.
            - E…?
            - Os caídos estão querendo tomar a Terra de nós. De novo. Já começaram o trabalho deles. Estão seduzindo as pessoas para levá-las pelo caminho do pecado. Se não impedirmos, eles conseguirão dominar a Terra. Mas, ao mesmo tempo, se mandarmos guerreiros, poderá começar uma terceira guerra mundial.
            - O que os anjos superiores decidiram? – Jú respirou fundo antes de responder.
            - Vai haver uma guerra. Não há outra escolha. Não podemos perder a Terra.
            A essa altura, Juliana já havia se jogado na cama, o rosto decepcionado. Odiava ver essa expressão no rosto puro da minha irmã. Puxei a cadeira de rodinhas da escrivaninha dela e me sentei, apoiando o rosto nas mãos.
            - Não há mais nada que possamos fazer? – perguntei. Nós sempre nos esforçávamos tanto para não haver um embate corporal… pena que eles não faziam o mesmo.
            - É bem mais fácil ceder à tentação do que ser certinho o tempo todo.
            Ela se calou por um momento e, quando voltou a falar, estava receosa, como se estivesse com medo.
            E não parecia ser medo da guerra.
            - Er… Danilo… – ela se levantou da cama lentamente e veio na minha direção, agachando-se até que o rosto ficasse na altura do meu.
            - O que foi? – perguntei quando ela não disse nada.
            Juliana fechou os olhos com força.
            - Eles querem que a Manu participe da guerra. – por um momento, fiquei paralisado. Manuela, um anjo tão experiente quanto um recém-nascido, numa guerra?
            Guerra?!
            Não, de jeito nenhum!
            Levantei da cadeira tão rápido que ela caiu para trás.
            - O que?! Como assim?! Ela nem sabe voar direito! Eu não vou deixar que entreguem Manuela para aqueles monstros. Isso é loucura!
            Minha irmã se levantou e se aproximou, tentando me acalmar. O único problema, é que eu não estava nem um pouco a fim disso.
            - Ela será necessária. O anjo do tempo previu que precisaremos de um anjo parte humano para traçar a nossa estratégia.
            - Por quê?
            - Você nunca percebeu que ela tem um certo fascínio pelas guerras?
            - Sim, mas…
            - Então, por causa desse fascínio, ela pode ter aprendido bastante sobre as guerras antigas…
            - De jeito nenhum. Não vou correr o risco de perder a coisa mais preciosa da minha vida. – falei, direcionando com o braço o quarto de Manuela. Eu estava perdendo a cabeça, andava agitado pelo quarto e tinha certeza de que estava falando muito alto.
            Eu nunca tinha brigado com a minha irmã. Isso me deixou um pouco chateado comigo mesmo, mas eu ia defender Manuela custe o que custasse.
            - Manuela não vai se machucar. Ela não precisa ir para a guerra, apenas ajudar na estratégia.
            Isso me acalmou um pouco.
            - Tudo bem então, mas precisamos falar com ela.
            - Vamos sim, mas precisamos de tempo para pensar no assunto. Para que ela fique sabendo de tudo logo de uma vez.
            - Não tem chance mesmo de ela participar da guerra?
            - Só se ela quiser…
            Antes que ela terminasse de falar, saí correndo do quarto. Ia colocar na cabeça de Manu que fazer parte de uma guerra era loucura e fazer com que ela não quisesse fazer parte disso.
            Mas antes que eu chegasse à porta, Juliana me alcançou. Ela me jogou contra a parede e me prendeu. Suas asas, maiores que as minhas, estavam esticadas e brilhando, me impondo o seu poder.
            - Você não vai contar nada a ela agora. É perigoso. Vocês dois estudam numa escola repleta de anjos caídos que podem invadir a mente dela. Só contei para você porque sei que sabe se proteger contra isso, então… Me. Obedeça. – disse ela, de forma pausada, transformando uma frase em duas.
            Seus olhos ficaram cinza e depois brancos. Era a sua forma de intimidar e, sinceramente, funcionava. Suas asas estavam prontas para me cercarem se eu me soltasse. Pela primeira vez, senti medo de Juliana.
            - Tudo bem. Não vou fazer nada. Prometo. – apesar do medo, mantive a voz firme.
            - Acho bom. Você não é uma criança. – seus olhos começaram a voltar ao normal. – Preste atenção no que você vai falar. Se falar demais, pode custar até a vida dela.
            O único jeito de matar um anjo do amor é matando o seu companheiro que no caso, sou eu. Isso seria impossível, já que anjos não morrem. Bom, pelo menos era o que Manuela achava.
            Se eu caísse e, por acaso alguém matasse meu corpo, eu iria para o inferno e seria a mesma coisa de estar morto. De qualquer forma, não estava disposto a cair. Não ia jogar a vida de Manuela pela janela.
            Juliana me soltou e desceu pela escada rapidamente. Se ela fosse humana, eu poderia dizer que ela estava de TPM, mas não era o caso. Só estava nervosa com a guerra. Juliana nunca aprovou guerras, como qualquer anjo normal, mas ela tinha um probleminha: lutava muito bem. O próprio Léo já tinha perdido uma luta para ela e olha que ele é professor dos guerreiros. Toda vez que tinha uma guerra, Juliana era chamada para lutar. Ela não gostava disso – nem eu, já que tinha Juliana como minha irmã mais velha há séculos.
            Depois que ela sumiu de vista, respirei fundo duas vezes antes de entrar no quarto. Eu sabia que Manuela tinha reparado algo de estranho em mim, mas não comentou nem perguntou nada. Estranho. Normalmente ela era tão curiosa.
            Ela beijou meus lábios com delicadeza e me abraçou. Era exatamente do que eu precisava. Tive uma vontade enorme de contar toda a verdade para ela, mas lembrei de Juliana. Ela estava de olho e eu sabia que seria um risco que não valeria à pena. Então, teria que esperar até que um dos meus irmãos desse o sinal.
            - O que você ouviu? – perguntei.
            - Nada demais. Só ouvi um barulho na parede e depois de Juliana descendo as escadas – ri baixo e sem muito humor.
            - O barulho era de Juliana me jogando contra a parede – isso pareceu assustá-la. Manuela se afastou um pouco para ver meu rosto.
            - Por que ela fez isso?
            - Porque eu ia falar o que não devia.
            - Ia me falar sobre o que vocês conversaram? – adivinhou ela.
            - Aham, mas não consegui nem chegar ao seu quarto. – ela deu um meio sorriso.
            - Nossa. Juliana é rápida.
            - Você nem tem idéia do quanto. – sorri. Ela sempre conseguia fazer com que eu me sentisse melhor.
            Ela não me perguntou mais nada sobre a minha conversa com Juliana naquela noite. Depois que ela me perguntou sobre o que eu fazia nos meus tempos vagos, resolvi deixá-la dormir.  
            - Bom, acho que é melhor eu deixar você dormir. – ela com certeza tinha percebido algo de errado comigo.
            - Tudo bem. Eu te amo.
            - Também te amo – dei um beijo rápido nela e fui embora.

Para começo de conversa..

Oie! Meu nome é Vanessa e aqui nesse blog você vai poder ler os capítulos do meu livro, Alados. Espero que gostem!
bjao