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sábado, 9 de julho de 2011

Prólogo (Danilo): Alados

Estava no quarto com Manuela quando minha irmã entrou. Parecia nervosa. Pelo jeito, o que temíamos acabou acontecendo.
            - Posso falar com você? – perguntou ela. A respiração estava agitada, mas eu era o único presente que podia perceber o toque de pânico em sua voz.
            - Pode sim. – tentei manter a voz calma. Para Manu eu disse: – Já volto. – beijei a testa de Manu. Ela parecia confusa, mas eu não podia explicar nada a ela.
            Saímos do quarto e fomos para o de Juliana. Eu não sabia o porquê, mas ela adorava usar aquele quarto para conversar coisas sérias. Como ela era o anjo superior, ninguém se atrevia a escutar pela porta.
            - Aconteceu? – perguntei. Seus olhos meio verdes meio azuis agora estavam arregalados.
            - Sim. Acabei de voltar de uma reunião com os coodernadores de guerras.
P.S: Coodernadores de guerras eram anjos superiores que organizavam as guerras e batalhas.
            - E…?
            - Os caídos estão querendo tomar a Terra de nós. De novo. Já começaram o trabalho deles. Estão seduzindo as pessoas para levá-las pelo caminho do pecado. Se não impedirmos, eles conseguirão dominar a Terra. Mas, ao mesmo tempo, se mandarmos guerreiros, poderá começar uma terceira guerra mundial.
            - O que os anjos superiores decidiram? – Jú respirou fundo antes de responder.
            - Vai haver uma guerra. Não há outra escolha. Não podemos perder a Terra.
            A essa altura, Juliana já havia se jogado na cama, o rosto decepcionado. Odiava ver essa expressão no rosto puro da minha irmã. Puxei a cadeira de rodinhas da escrivaninha dela e me sentei, apoiando o rosto nas mãos.
            - Não há mais nada que possamos fazer? – perguntei. Nós sempre nos esforçávamos tanto para não haver um embate corporal… pena que eles não faziam o mesmo.
            - É bem mais fácil ceder à tentação do que ser certinho o tempo todo.
            Ela se calou por um momento e, quando voltou a falar, estava receosa, como se estivesse com medo.
            E não parecia ser medo da guerra.
            - Er… Danilo… – ela se levantou da cama lentamente e veio na minha direção, agachando-se até que o rosto ficasse na altura do meu.
            - O que foi? – perguntei quando ela não disse nada.
            Juliana fechou os olhos com força.
            - Eles querem que a Manu participe da guerra. – por um momento, fiquei paralisado. Manuela, um anjo tão experiente quanto um recém-nascido, numa guerra?
            Guerra?!
            Não, de jeito nenhum!
            Levantei da cadeira tão rápido que ela caiu para trás.
            - O que?! Como assim?! Ela nem sabe voar direito! Eu não vou deixar que entreguem Manuela para aqueles monstros. Isso é loucura!
            Minha irmã se levantou e se aproximou, tentando me acalmar. O único problema, é que eu não estava nem um pouco a fim disso.
            - Ela será necessária. O anjo do tempo previu que precisaremos de um anjo parte humano para traçar a nossa estratégia.
            - Por quê?
            - Você nunca percebeu que ela tem um certo fascínio pelas guerras?
            - Sim, mas…
            - Então, por causa desse fascínio, ela pode ter aprendido bastante sobre as guerras antigas…
            - De jeito nenhum. Não vou correr o risco de perder a coisa mais preciosa da minha vida. – falei, direcionando com o braço o quarto de Manuela. Eu estava perdendo a cabeça, andava agitado pelo quarto e tinha certeza de que estava falando muito alto.
            Eu nunca tinha brigado com a minha irmã. Isso me deixou um pouco chateado comigo mesmo, mas eu ia defender Manuela custe o que custasse.
            - Manuela não vai se machucar. Ela não precisa ir para a guerra, apenas ajudar na estratégia.
            Isso me acalmou um pouco.
            - Tudo bem então, mas precisamos falar com ela.
            - Vamos sim, mas precisamos de tempo para pensar no assunto. Para que ela fique sabendo de tudo logo de uma vez.
            - Não tem chance mesmo de ela participar da guerra?
            - Só se ela quiser…
            Antes que ela terminasse de falar, saí correndo do quarto. Ia colocar na cabeça de Manu que fazer parte de uma guerra era loucura e fazer com que ela não quisesse fazer parte disso.
            Mas antes que eu chegasse à porta, Juliana me alcançou. Ela me jogou contra a parede e me prendeu. Suas asas, maiores que as minhas, estavam esticadas e brilhando, me impondo o seu poder.
            - Você não vai contar nada a ela agora. É perigoso. Vocês dois estudam numa escola repleta de anjos caídos que podem invadir a mente dela. Só contei para você porque sei que sabe se proteger contra isso, então… Me. Obedeça. – disse ela, de forma pausada, transformando uma frase em duas.
            Seus olhos ficaram cinza e depois brancos. Era a sua forma de intimidar e, sinceramente, funcionava. Suas asas estavam prontas para me cercarem se eu me soltasse. Pela primeira vez, senti medo de Juliana.
            - Tudo bem. Não vou fazer nada. Prometo. – apesar do medo, mantive a voz firme.
            - Acho bom. Você não é uma criança. – seus olhos começaram a voltar ao normal. – Preste atenção no que você vai falar. Se falar demais, pode custar até a vida dela.
            O único jeito de matar um anjo do amor é matando o seu companheiro que no caso, sou eu. Isso seria impossível, já que anjos não morrem. Bom, pelo menos era o que Manuela achava.
            Se eu caísse e, por acaso alguém matasse meu corpo, eu iria para o inferno e seria a mesma coisa de estar morto. De qualquer forma, não estava disposto a cair. Não ia jogar a vida de Manuela pela janela.
            Juliana me soltou e desceu pela escada rapidamente. Se ela fosse humana, eu poderia dizer que ela estava de TPM, mas não era o caso. Só estava nervosa com a guerra. Juliana nunca aprovou guerras, como qualquer anjo normal, mas ela tinha um probleminha: lutava muito bem. O próprio Léo já tinha perdido uma luta para ela e olha que ele é professor dos guerreiros. Toda vez que tinha uma guerra, Juliana era chamada para lutar. Ela não gostava disso – nem eu, já que tinha Juliana como minha irmã mais velha há séculos.
            Depois que ela sumiu de vista, respirei fundo duas vezes antes de entrar no quarto. Eu sabia que Manuela tinha reparado algo de estranho em mim, mas não comentou nem perguntou nada. Estranho. Normalmente ela era tão curiosa.
            Ela beijou meus lábios com delicadeza e me abraçou. Era exatamente do que eu precisava. Tive uma vontade enorme de contar toda a verdade para ela, mas lembrei de Juliana. Ela estava de olho e eu sabia que seria um risco que não valeria à pena. Então, teria que esperar até que um dos meus irmãos desse o sinal.
            - O que você ouviu? – perguntei.
            - Nada demais. Só ouvi um barulho na parede e depois de Juliana descendo as escadas – ri baixo e sem muito humor.
            - O barulho era de Juliana me jogando contra a parede – isso pareceu assustá-la. Manuela se afastou um pouco para ver meu rosto.
            - Por que ela fez isso?
            - Porque eu ia falar o que não devia.
            - Ia me falar sobre o que vocês conversaram? – adivinhou ela.
            - Aham, mas não consegui nem chegar ao seu quarto. – ela deu um meio sorriso.
            - Nossa. Juliana é rápida.
            - Você nem tem idéia do quanto. – sorri. Ela sempre conseguia fazer com que eu me sentisse melhor.
            Ela não me perguntou mais nada sobre a minha conversa com Juliana naquela noite. Depois que ela me perguntou sobre o que eu fazia nos meus tempos vagos, resolvi deixá-la dormir.  
            - Bom, acho que é melhor eu deixar você dormir. – ela com certeza tinha percebido algo de errado comigo.
            - Tudo bem. Eu te amo.
            - Também te amo – dei um beijo rápido nela e fui embora.

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